Fiocruz vai levantar histórico de 600 bebês com e sem microcefalia

Estudo inclui 200 crianças com a anomalia congênita e outras 400 que não apresentam a malformação
Cinthya Leite
Publicado em 11/12/2015 às 6:04
Estudo inclui 200 crianças com a anomalia congênita e outras 400 que não apresentam a malformação Foto: Edmar Melo/JC Imagem


Daqui a 15 dias, pesquisadores da Fiocruz Pernambuco chegam às maternidades para dar início a um estudo cujo objetivo é conhecer o perfil de 200 recém-nascidos com microcefalia e compará-los às características de 400 bebês sem essa malformação, nascidos nas mesmas unidades de saúde. O trabalho pretende investigar fatores de origem infecciosa, genéticos e ambientais relacionados ao avanço dos casos de microcefalia, ligados até pouco tempo a causas habituais como toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus.

Como a confirmação da relação entre a infecção pelo vírus da zika na gestação e o aumento dos casos da malformação geram perguntas que precisam ser esclarecidas, os pesquisadores têm a missão de explicar questões relacionadas à transmissão do vírus, a forma como ele atua no organismo humano, a infecção do feto e o período de maior vulnerabilidade para a gestante.

“As mães desses bebês com e sem microcefalia também participaram do estudo. Vamos investigar medicações que elas usaram na gestação, vacinas administradas nesse período, utilização de inseticidas em domicílio e possível aparecimento de manchas vermelhas ou sinais de qualquer outra doença. Também vamos investigar a existência de doença genética na família”, explica a coordenadora do estudo, Celina Turchi Martelli, pesquisadora visitante do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, unidade da Fiocruz Pernambuco. 

As investigações contam com a consultoria da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. “Pesquisadores virão mensalmente para acompanhar os avanços do projeto”, diz Celina. Ela acrescenta que a pesquisa deve mostrar um panorama dos novos casos de microcefalia e apresentar à comunidade científica fatores virais, ambientais e genéticos que podem contribuir com a gravidade da malformação. “A expectativa é de que entre seis e oito meses possamos apresentar os resultados desse estudo. Mas antes disso, daqui a dois ou três meses, já faremos uma primeira análise dos dados.”

EXAMES

Durante o estudo, os bebês com microcefalia passarão pelos exames já previstos no protocolo estabelecido pela Secretaria Estadual de Saúde, como a tomografia. Os recém-nascidos sem a malformação realizarão ultrassonografia transfontanela (exame realizado através da moleira), que não é invasivo e não traz prejuízos aos bebês. “Essa conduta permite dizer o percentual de crianças normais que também poderia ter calcificações no cérebro, característico de uma anomalia de cunho infeccioso”, esclarece Celina.

A pesquisadora acrescenta que, paralelamente a esse estudo de caso- controle, a Fiocruz Pernambuco dá andamento a outras duas pesquisas: uma acompanhará, durante dois anos, os casos de crianças que recentemente nasceram com microcefalia. “Ao longo do desenvolvimento delas, vamos ver os déficits cognitivos e neurológicos que elas possam apresentar”, informa Celina. O outro estudo fará um seguimento de gestantes que apresentarem manchas vermelhas na pele – um dos sinais clássicos da zika. O projeto de ambas as pesquisas está em fase de elaboração e contará com o apoio do Instituto Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).

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