Pneumonia é a nova vilã dos bebês com microcefalia

Crianças com a malformação têm maior propensão a desenvolver infecção pulmonar agressiva. Um bebê de 8 meses morreu, no sábado (25), por complicações da doença
Da editoria de Cidades
Publicado em 28/06/2016 às 8:53
Crianças com a malformação têm maior propensão a desenvolver infecção pulmonar agressiva. Um bebê de 8 meses morreu, no sábado (25), por complicações da doença Foto: Diego Nigro/JC Imagem


A morte de um bebê de 8 meses com microcefalia, no último sábado (25), possivelmente em decorrência de complicações de um quadro de pneumonia agressiva, chama atenção para a probabilidade de crianças com distúrbios neurológicos desenvolverem infecção pulmonar que requer cuidados intensivos. Um menino de 2 anos, que também nasceu com a malformação congênita, aguarda vaga em unidade de terapia intensiva (UTI) há uma semana, após apresentar pneumonia. Ele está internado, desde o dia 16 de maio, na enfermaria pediátrica do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que não conta com UTI pediátrica. 

“Fomos à Defensoria Pública da União três vezes e conseguimos liminar para garantir uma vaga no último dia 23. Os médicos dizem que o quadro dele é grave e precisa de UTI”, conta a avó do menino, a auxiliar de higienização Andréa Severo da Silva, 37 anos. No fim da tarde da segunda-feira (27), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou a disponibilidade de leito no Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru, no Agreste, e a família autorizou a transferência para a unidade de saúde no interior mesmo morando em Coqueiral, Zona Oeste do Recife, a 135 km de distância. A transferência deveria ocorrer ainda na noite da segunda-feira (27).

“As crianças com microcefalia têm maior risco de apresentar infecção pulmonar como todo paciente neurológico. É um grupo que tem apresentado disfagia (dificuldade de deglutição com risco de broncoaspiração), o que aumenta a chance de desenvolvimento de infecção da via aérea superior e, assim, evoluir para a pneumonia”, explica a pediatra Danielle Cruz, do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). A médica acrescenta que não dá para prever se esse quadro clínico será mais comum nos bebês com microcefalia associada ao zika, em comparação aos demais pacientes neurológicos.

“Como eles não deglutem bem, a comida vai para o pulmão. Até mesmo a saliva e secreção acumuladas podem aumentar o risco da infecção pulmonar”, informa Danielle. Ela acompanhou, a cada mês, o bebê com microcefalia que faleceu no sábado em Camaragibe, onde morava. “Ele provavelmente tinha algum grau de disfagia, pois se engasgava muito. É o meu primeiro paciente que nasceu com microcefalia e que vai a óbito com meses após nascido. É difícil para mim e claro que também é para a mãe, que sempre foi muito cuidadosa com ele.” 

Em relação a óbitos de bebês com a malformação em Pernambuco, a SES informa que só notifica os casos que já nasceram mortos e aqueles que vão a óbito logo após o nascimento. Portanto, oficialmente não há registros de bebês com microcefalia que morrem após dias ou meses de nascidos. 

SEM VAGAS 

A falta de leitos de UTI pediátrica é realidade em todo o Estado e preocupa a União de Mães de Anjos (UMA), entidade que presta assistência às famílias de crianças com microcefalia. “Os bebês têm apresentado um quadro de cansaço infinito. Muitos estão sendo socorridos e broncoaspirando, o que se tornou uma coisa comum. Quando se precisa de UTI, só tem em cidades do interior e, às vezes, o bebê pode não aguentar a transferência. Não podemos deixar essas coisas acontecerem”, ressalta a presidente da UMA, Germana Soares.

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