Pesquisadores farão mapeamento em áreas com registros de microcefalia

Dados vão apontar se epidemia de zika, relacionada ao aumento no número de casos da malformação, foi por Aedes ou pela muriçoca
Cinthya Leite
Publicado em 23/07/2016 às 9:31
Dados vão apontar se epidemia de zika, relacionada ao aumento no número de casos da malformação, foi por Aedes ou pela muriçoca Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Com a comprovação de que o mosquito Culex quinquefasciatus, popularmente conhecido como muriçoca, é um potencial transmissor do zika vírus, pesquisadores começam a se organizar para fazer um mapeamento do índice de infestação por Aedes aegypti e por Culex quinquefasciatus nas áreas do Recife onde mais têm sido registrados os casos de microcefalia relacionados ao zika. “Estima-se que 90% dos casos dessa malformação ocorram em áreas onde há muito Culex”, diz a bióloga Constância Ayres Lopes, coordenadora do estudo realizado pela Fiocruz Pernambuco e que mostrou, pela primeira vez, a implicação de outra espécie de mosquito, diferente do Aedes, na transmissão de zika. 

O trabalho, que ainda não tem data definida para ser iniciado, será realizado em parceria com a Fundação Altino Ventura, que tem acompanhado boa parte dos bebês que nascem com microcefalia no Estado. “A ideia é ir à casa das mães dessas crianças e fazer uma pesquisa que compare a quantidade de Aedes com a de Culex. A gente conhece esse universo de uma maneira geral, nos bairros onde instalamos armadilhas e coletamos os mosquitos. Mas nas áreas onde há circulação de zika, não sabemos ainda como é essa proporção”, ressalta Constância. As residências das famílias dos bebês com microcefalia serão usadas como parâmetro porque teoricamente são consideradas áreas mais expostas à infecção pelo zika vírus, cuja epidemia foi conhecida no segundo semestre de 2015, quando nasceram os primeiros bebês com a malformação congênita. 

“Será um trabalho importante porque estamos percebendo que o contexto ambiental onde as famílias moram tem papel fundamental. Dependendo das condições, a área facilita a disseminação da zika. Precisamos fazer um diagnóstico dessa realidade para enfrentar desafios, fortalecer comunidades e adotar estratégias”, salienta a oftalmopediatra Liana Ventura, presidente da Fundação Altino Ventura. 

Se a próxima etapa do trabalho de Constância comprovar que o Culexé o principal vetor do zika (até mais do que o Aedes), autoridades de saúde precisarão reorganizar o combate às arboviroses. São espécies com hábitos que exigem estratégias de controle diferentes. “Muriçoca coloca os ovos em água poluída, rica em materiais orgânicos, como esgotos e fossas. Isso requer medidas de saneamento básico para eliminar criadouros”, frisa Constância.

O Culex quinquefasciatus também é transmissor da filariose, doença em vias de eliminação em Pernambuco, que teve o último caso computado em 2013. O detalhe é que, para filariose, existe tratamento medicamentoso, o que possibilita maior controle da transmissão. “E no caso da filariose, a pessoa precisa receber cerca de mil picadas de muriçoca para se infectar”, diz Constância, que agora vai investigar se, para ocorrer a infecção por zika, o número de picadas do Culex é importante.

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