A nova fase dos testes da vacina contra esquistossomose desenvolvida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) será realizada deste mês até dezembro em adultos da região endêmica no Senegal (África). Essa etapa de estudos para o imunizante é vista como um avanço para o enfrentamento de um problema negligenciado que acomete 230 milhões de pessoas por ano no mundo. Conhecida como a segunda doença parasitária mais devastadora, atrás apenas da malária, a esquistossomose foi associada à morte de 133 pessoas, no ano passado, em Pernambuco – Estado brasileiro com maior número de óbitos. “Acreditamos que o registro é subnotificado. Para evitar mortes e novos casos, realizamos ações em parceria com os municípios através do Programa de Enfrentamento às Doenças Negligenciadas (Sanar)”, diz a gerente do programa de controle da esquistossomose de Pernambuco, Bárbara Silva.
No Estado, apenas no ano passado, foram realizados 241.398 exames de investigação da doença nas áreas sob risco. Desse total, 7.258 foram positivos para a doença, o que equivale a 3% dos casos investigados. Dos casos confirmados, 4.384 passaram por tratamento – isso corresponde a uma cobertura de tratamento de 60,4%. É o menor percentual dos últimos cinco anos. Em 2010, a cobertura de tratamento chegou a 79,4%. Em 2014, a taxa foi de 81,6%. “Há municípios que não fazem busca ativa adequada dos pacientes. Não adianta fazer diagnóstico e não tratar. Outro detalhe é que o sistema não registra as pessoas que receberam a medicação de forma coletiva (quando são tratados todos os indivíduos de uma área de risco, independentemente de fazer ou não exame). Pode acontecer de casos tratados não terem sido registrados”, esclarece Bárbara.
Até 2018, Pernambuco tem como meta diminuir a taxa de positividade da esquistossomose a menos de 10% nas localidades dos 26 municípios eleitos como prioritários. A média de todo o Estado é de 3%. Mas existem áreas em que esse percentual preocupa. Em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata Sul, há região onde 25% dos casos investigados são positivos para a doença. Em Vicência, Zona da Mata Norte, há localidade com positividade de 20%. “Em algumas áreas, conseguimos baixar esse índice. O município de São Benedito do Sul (Zona da Mata Sul) tinha 36% de positividade em um local, onde foram feitos tratamentos coletivos em três anos. A taxa hoje é de 7%.”
Embora tenha tratamento, a doença preocupa os especialistas. “Em Pernambuco, está o maior número de casos, óbitos, internações hospitalares e formas graves da esquistossomose, em comparação com o restante do Brasil. Isso ocorre porque as medidas de controle são centradas em ações medicamentosas: o doente é medicado, mas as condições ambientais permanecem insalubres, o que leva as pessoas a adoecerem novamente”, lamenta a bióloga Constança Simões Barbosa, do Serviço de Referência em Esquistossomose da Fiocruz Pernambuco. A pesquisadora acrescenta que, para quebrar a transmissão da doença, seria preciso investir em saneamento básico.
Na nova fase de estudos, a vacina será administrada em três doses, com intervalos de um mês entre cada uma. A conclusão dessa etapa está prevista para 2017. O imunizante utiliza a proteína Sm14, sintetizada a partir do Schistosoma mansoni, verme causador da esquistossomose na América Latina e na África. Será produzida a partir de um antígeno – substância que estimula a produção de anticorpos, evitando que o parasita causador da doença se instale no organismo ou que lhe cause danos.