Na véspera de Natal de 2014, a oncologista Riana Aurea Araújo de Barros, 44 anos, percebeu um sangramento no mamilo enquanto tomava banho. Como médica, sabia que era um dos sinais que chamam a atenção para suspeita de câncer de mama. No primeiro dia útil do ano, submeteu-se a uma ressonância magnética, que apontou um nódulo suspeito. Fez a biópsia no mesmo dia e, ainda em janeiro, passou pela mastectomia, seguida de 17 sessões de quimioterapia. Ao longo dessa trajetória, Riana percebeu que compartilhar a própria história enquanto paciente era essencial para ajudar outras mulheres a enfrentar a doença. A oncologista é uma das participantes do projeto Além da Cura, que tem como objetivo desmistificar o câncer por meio de relatos reunidos num documentário, que já começou a ser gravado no Recife, em Paris (França), no Porto (Portugal) e em Hamburgo (Alemanha).
Um pequeno diário de viagem, com mensagens das entrevistadas pelo mundo, está disponibilizado nas redes sociais do projeto. “O material começou a ser produzido depois que conseguimos arrecadar, no ano passado, R$ 54,8 mil através de financiamento coletivo. No próximo ano, queremos entrevistar mulheres com câncer na África e na Ásia. Em 2018, passaremos pela Oceania e lançaremos o documentário. Para isso, continuamos com as arrecadações”, diz a cineasta Bruna Monteiro, 24. Ela decidiu oferecer espaço para mulheres com câncer contarem suas histórias, a fim de quebrar tabus ainda associados à doença. Até agora, 20 pacientes foram entrevistadas.
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“Percebemos a importância do compartilhamento de histórias. Quando as mulheres veem outras que também estão em tratamento, sentem-se menos sozinhas. Esse é o grande sonho do projeto: ser um canal em que as pessoas possam assistir vários depoimentos e criar uma rede de esperança, força e empoderamento feminino”, relata Bruna, à frente do Além da Cura ao lado do analista de sistemas e artista plástico Victor Maristane, 25.
Para Riana, projetos como esse são essenciais para ajudar as mulheres a serem protagonistas do caminho que percorrem para vencer o câncer, sem deixar espaço para a doença. “Não tenho dúvidas de que um relato pode ajudar o outro a fazer a história dele ainda melhor. No ano passado, uma mulher veio falar comigo enquanto estava na fila do supermercado para dizer que o marido resolveu se tratar do câncer após ter ouvido a minha história nas redes sociais. Desde então, viramos amigas”, conta Riana, que criou o Grupo Nascer de Novo para ajudar mulheres com câncer antes mesmo de ela ser diagnosticada com o tumor.
“Todas me acolheram na condição de paciente. Tem hora em que não sei mais se faço o acompanhamento delas ou se elas me acompanham”, acrescenta Riana. No início do mês, a oncologista participou de uma ação do Além da Cura, no Shopping Tacaruna, para alertar a população sobre a doença. “Desde que fui diagnosticada com câncer de mama, passei a levantar a bandeira de que é preciso estarmos conectados para falar sobre o assunto”, finaliza Riana.