Uma nova candidata a vacina de DNA contra o vírus da febre amarela, desenvolvida por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, apresentou alto nível de eficiência em testes feitos com duas espécies de camundongos. Ou seja, os testes alcançaram 100% de proteção, assim como acontece com a vacina convencional, usada atualmente. A diferença é que o imunizante testado no Estado poderia ser aplicado em grupos (gestantes, idosos e pacientes imunodeprimidos, entre outros) que não têm indicação para receber a vacina hoje disponibilizada e feita com vírus vivo enfraquecido. A tecnologia das vacinas de DNA é considerada uma tendência para o futuro da imunização.
Com a recente epidemia de febre amarela no País, responsável pela morte de 76 pessoas (considerando casos confirmados até a tarde desta quinta-feira, dia 9/2), a discussão sobre a importância dessa nova vacina contra o vírus passa a ser vista com bons olhos pela ciência porque se trata de uma alternativa que poderia beneficiar uma população que, em meio a um surto da doença, fica desprotegida.
“A molécula de DNA é completamente inerte. Uma vez colocada dentro de um indivíduo, proteínas do vírus são produzidas. Em seguida, são gerados anticorpos contra essas proteínas. A imunização ocorre sem a presença do organismo vivo”, explica o biólogo Rafael Dhalia, doutor em engenharia genética e inventor do produto, ao lado do médico Ernesto Marques. O princípio da vacina de DNA contra o vírus da febre amarela é bem parecido com o imunizante de DNA que está em desenvolvimento contra o zika. "Dengue, zika e febre amarela são flavivírus; eles têm um genoma muito parecido", reforça Rafael.
Pesquisadores do Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, Rafael e Ernesto já patentearam essa vacina de DNA. Para ser disponibilizada para a população, o imunizante precisa passar por outros testes, que incluem provas de eficácia e segurança em humanos.
Até agora, foi feito um ensaio pré-clínico com 100 camundongos. Entre eles, 80 receberam a vacina; os outros 20 não receberam as doses do produto. “O ensaio mais impactante foi um desafio letal: um tempo após a imunização, injetamos o vírus no cérebro desses camundongos. Só os que receberam a vacina, antes do desafio, não foram a óbito. Conseguimos obter a mesma eficiência da vacina convencional”, explica Rafael Dhalia.
Os testes tiveram seus resultados publicados em artigo na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases. No estudo, intitulado Uma vacina de DNA contra o vírus da febre amarela: desenvolvimento e avaliação, os pesquisadores ressaltam a importância de o produto passar por estudos mais avançados. A investigação beira a casa dos bilhões. “A Fiocruz contratou a Wylinka, que prospecta empresas que possam financiar as próximas fases da pesquisa.”
Ainda de acordo com Rafael, a vacina de DNA possibilita construir uma planta de escalonamento para produção. “Como o imunizante seria feito em meio de cultura de bactérias, colocadas em grandes fermentadores, há a possibilidade de se fazer a vacina em maior escala. Então, numa situação de emergência (epidemia), seria uma opção complementar à vacina que já existe hoje”, conclui o pesquisador.