Nos últimos 10 anos, o número de casos de hepatite C quadruplicou em Pernambuco. Em 2008 foram registrados 47 casos. Uma década depois, 198 pessoas tiveram resultado positivo para a infecção. Os altos índices refletem a situação nacional, onde os números dobraram no mesmo período, passando de 10.070 casos em 2008 para 26.167 confirmações em 2018. Só este ano, o Ministério da Saúde já enviou para os Estados cerca de 24 mil tratamentos para hepatite C. Pela falta de sintomas, a estimativa do órgão é que mais de 500 mil pessoas ainda não saibam que têm o vírus.
Uma das justificativas para o aumento é o trabalho contra a subnotificação dos casos. Segundo a gerente do Programa Estadual de IST/Aids/HV, Camila Dantas, o crescimento não necessariamente é um dado ruim, uma vez que agora as pessoas estão sendo diagnosticadas. “A gente espera que os números aumentem de fato. Queremos descobrir onde estão as pessoas infectadas e fazer o tratamento. A busca por casos faz parte da nossa estratégia para quebrar o ciclo de transmissão. Os casos sempre existiram, a diferença é que agora há confirmação, registro e tratamento deles”, explica, lembrando a importância da descentralização dos Centros de Testagem e Aconselhamento, que estão espalhados por todo o Estado.
Praticamente assintomática, a hepatite C em estado avançado pode causar comprometimento do fígado e complicações como cirrose. Sua transmissão acontece pelo sangue, seja contato direto ou por meio de objetos infectados, e ainda não há vacina preventiva. Alguns cuidados, segundo Camila Dantas, podem ser tomados para evitar a infecção. “O vírus é muito resistente e pode viver dias em uma superfície infectada, como um barbeador ou um alicate, por exemplo. Por isso a importância de não compartilhar esse tipo de objeto e ficar atento ao fazer piercings ou tatuagens. Pessoas com mais de 40 anos também devem fazer o exame para descartar contaminação na infância, quando as seringas não eram descartáveis”, alerta. Em Pernambuco, o aumento na última década chegou a 321,2%.
Por outro lado, os índices de infecção com o tipo A da doença caíram significativamente tanto no País, como em Pernambuco e no Recife. Em 2008, o Brasil teve 11.680 casos confirmados. Já em 2018, o número caiu para 2.149. Em Pernambuco, a redução foi de 97,9%, caindo de 913 para 19 casos. Na capital do Estado os resultados também são animadores. No Recife, em 2008 foram registrados 164 casos de hepatite A. Uma década depois, apenas cinco casos foram confirmados, representando queda de 96,9%.
Transmitida por meio de água ou alimentos contaminados, esse tipo de vírus tem vacina e é facilmente tratada. De acordo com Alberto Enildo Silva, chefe do setor de STA e Hepatites Virais da Secretaria de Saúde do Recife (Sesau), a tendência é que os números diminuam de forma proporcional aos investimentos feitos na infraestrutura das cidades. “Além dos alimentos, ela está relacionada principalmente às condições de saneamento e abastecimento de água. Uma vez que essas demandas são solucionadas, menos casos aparecem”, diz. População, no entanto, deve ficar atenta também à higiene pessoal, uma vez que também há possibilidade de contaminação durante relações sexuais. A vacinação é feita em crianças até os 4 anos.
O pequeno Bernardo Silva tem apenas sete dias de nascido e já começou o esquema de imunização. Para a mãe do bebê, a bióloga Aline Silva, esse é um cuidado essencial. “Ninguém na minha família teve hepatite porque sempre demos muita atenção à carteirinha de vacinação. Assim como foi feito pela minha mãe, é um cuidado que repito com meus filhos. Faço questão de manter para todos estarem imunizados”, comenta.
A hepatite B, por sua vez, se apresentou mais constante que os demais tipos. Apesar disso, a contaminação continua preocupando as autoridades de saúde. “A contaminação ocorre da mesma forma que a hepatite C, mas com o agravante de ser transmitida nas relações sexuais desprotegidas. Apesar dos números não sofrerem tanta alterações, há uma preocupação com a falta do uso de preservativo nas relações. O fato de existir vacina segura o número de casos, mas eles podiam ser muito baixos se as pessoas fossem mais conscientes”, explica. A vacina pode ser tomada em qualquer fase da vida, mas só terá efeito caso o esquema de três doses seja cumprido dentro do calendário correto.
Aos 82 anos, o aposentado Luiz Geraldo Alves não quis arriscar. Após recomendação médica, procurou um posto de vacinação para se imunizar. “É sempre bom a gente prevenir qualquer tipo de doença. Com a idade, a gente vai ficando mais vulnerável e um cuidado rápido, como a vacina, pode evitar transtornos maiores”, frisa.
A meta do Ministério da Saúde é que a hepatite C seja eliminada dos municípios até 2030. A expectativa do órgão é que 50 mil pessoas sejam tratadas ainda este ano. Em um panorama geral, houve redução de 7% no número de casos notificados da doença no Brasil na última década. Em Pernambuco a redução foi de 61% e no Recife, 50,5%.
Neste sábado (27), o Plaza Shopping, no bairro de Casa Forte, na Zona Norte do Recife, recebe a ação “Hepatite Zero - Projeto Mundial de Erradicação”, promovida pelo Rotary Clube Casa Amarela e Novas Gerações. No local, serão realizados cerca de 500 testes para hepatite C das 14h às 18h. O resultado sai em 20 minutos e, caso dê positivo para a doença, o paciente será orientado a procurar o Departamento de Hematologia do Hospital das Clínicas, na Zona Oeste do Recife.
Também neste sábado, o ônibus do projeto Prevenção para Tod@s, iniciativa do Programa Estadual de IST/Aids/HV em parceria com a Unesco, estará em Garanhuns, no Agreste do Estado. Testes para hepatite B, HIV e sífilis podem ser feitos das 18h às 23h, no Parque Euclides Dourado, onde está acontecendo o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG).