Após o governo do Estado divulgar neste sábado (30) o cancelamento da exibição da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu" no Festival de Inverno de Garanhuns, a atriz que interpreta Jesus Cristo travesti no espetáculo, Renata Carvalho, acusou a gestão estadual de censura. "Mais uma vez uma censura nesse país que se diz democrático e com liberdade de expressão. O prefeito censurou, agora o governo corroborou, pessoas que estavam financiando o festival também se mostraram contra
e afirmaram que se a peça fosse exibida, prejudicaria toda a estrutura do evento", destacou.
Para Renata, a polêmica em torno da peça, que é um monólogo, se dá pela criminalização da imagem da travesti na sociedade. "Isso tudo se deve a construção social e a criminalização da travesti, porque Jesus é semelhante a imagem de todos, menos a nós, travestis", afirmou. "As pessoas tem esse ódio à peça porque a gente assemelha Jesus a esse corpo travesti. Apenas por isso, pois quem fala, nunca viu a peça e não tem tem conhecimento do texto e do trabalho", criticou.
Artistas locais estão se mobilizando para realizar uma vaquinha e trazer a peça para Garanhuns, fora do FIG. "Nós estivemos ai em Recife recentemente, e alguns artistas, como o Chico Ludemir e o Rodrigo Dourado, estão se mobilizando com abaixo assinado para levar a peça à Garanhuns", contou.
A Secretaria de Cultura de Pernambuco divulgou uma nota neste sábado (30), informando o cancelamento da peça e afirmando que "diante da polêmica causada pela atração e da possibilidade de prejuízos das parcerias estratégicas e nobres que o viabilizam. O Festival de Inverno de Garanhuns foi criado para unir e divulgar nossas expressões culturais e não para dividir e estimular a cultura do ódio e do preconceito".
Nesta sexta (29), o prefeito de Garanhuns, Izaías Régis, inflamou a polêmica ao afirmar que não abriria as portas do Centro Cultural da cidade, no próximo dia 26 de julho, para a apresentação. Segundo o prefeito, o espetáculo, que faz uma releitura de Jesus vivendo nos dias atuais como uma travesti, é uma ofensa a grupos religiosos.
"Não temos nada contra os transexuais, mas isso é uma coisa que atinge o cristianismo, as pessoas, as religiões. Eu falei por telefone com Marcelino Granja [secretário de cultura do Governo do Estado] e disse que não permitiria que apresentassem a peça no Centro Cultural", afirmou o prefeito, enfatizando que sua colocação "é a mesma que nós estamos vendo nas redes sociais de Garanhuns e do Brasil todo".