Festival de Curitiba 2019 estimula a insurreição a partir da arte

Com cerca de 400 atrações, evento reúne trabalhos que debatem a contemporaneidade
Márcio Bastos
Publicado em 25/03/2019 às 18:12
Com cerca de 400 atrações, evento reúne trabalhos que debatem a contemporaneidade Foto: Géraldine Aresteanu/Divulgação


O Festival de Curitiba chega à 28ª edição na próxima quarta-feira (27) com cerca de 400 atrações de teatro, dança, circo, música, que ocuparão 80 espaços da capital paranaense. Não é exagero, portanto, dizer que o evento mexe com a estrutura da cidade, mas, além disso, suas reverberações atingem outras regiões do País, ao reunir trabalhos que investigam e interpretam os nossos tempos.

Com o tema A Insurreição Que Vem, o Festival de Curitiba apresentará 27 espetáculos na Mostra 2019. Pelo quarto ano consecutivo, a curadoria da maratona cênica é assinada por Márcio Abreu e Guilherme Weber. A proposta deles ao longo desses anos tem se desenvolvido a partir da potência dos encontros e transformações que a arte promove.

“Nossa ideia passa tem a ver com algo que se desenvolva ao longo do tempo. Que crie camadas mais profundas da experiência do festival com a cidade, as pessoas da cidade, novos públicos, os artistas, coletivos, em uma perspectiva de dinamização dos encontros entre os campos da arte no teatro. Um Pensamento expandido da cena. É o mesmo conceito que vai se desdobrando ao longo de cada edição, para tirar o caráter só eventual que um festival pode ter e se pergunte que vestígios a experiência de um festival pode deixar no público e nos artistas”, explica Márcio Abreu.

Além da politização do festival, um aspecto que os curadores ressaltam do projeto é a diluição de barreiras artísticas. Esse procedimento tem expandido as possibilidades para os criadores e para o público e atraído uma juventude que há pouco tempo estava afastada do evento.

“A função de um festival é justamente buscar romper com questões latentes, tirá-las do estado de latência e iluminá-las. As questões levantadas pela comunidade negra conceitualizadas por artistas negros, por exemplo, é uma questão de todas as edições da nossa curadoria. Os corpos dissidentes e suas significações transformadoras da moral é outro exemplo. São ações poderosas de micropolítica. A busca pela compreensão da fenomenologia do Brasil. Essas questões atravessam nossas edições”, reforça Guilherme Weber.

ESPETÁCULOS

A maratona cênica é aberta por Aquele que Cai (Celui qui Tombe), uma criação do coreógrafo, bailarino e acrobata Yoann Bourgeois. Nele, o artista experimenta princípios da física, colocando seis corpos sobre uma plataforma giratória e suspensa que desce, sobe, balança e gira em torno do seu eixo principal com apenas uma instrução: tentarem manter-se em pé.
Também da França, Ariane Mnouchkin, diretora do Théâtre du Soleil, estreia As Comadres, seu primeiro espetáculo dirigido no Brasil. Entre as estreias estão ainda Dezembro, dirigido por Diego Fortes; Do Convento a Sala de Concerto, com a soprano Gabriella Di Laccio; Relatos Efêmeros da França Antártica, escrito e dirigido por Francisco Carlos; Sísifo, primeira colaboração cênica entre Gregorio Duvivier e Vinicius Calderoni; e Tráfico, do dramaturgo franco-uruguaio Sergio Blanco.

Alguns trabalhos que já passaram pelo Recife, como Elza e Navalha na Carne – Uma Homenagem à Tânia Carrero. Outros, devem circular pelo Brasil em breve e reúnem grandes nomes dos palcos nacionais, como Odisseia, da Cia Hiato, Outros, do Grupo Galpão; PI – Panorâmica Insana, dirigido por Bia Lessa; Recital da Onça, que marca a volta de Regina Casé ao teatro após 25 anos; e Dogville, com Fábio Assunção e Mel Lisboa.

A mostra ainda é composta pelo Interlocuções, que promove, gratuitamente, debates, oficinas, encontros, lançamento de livros e outras experiências. Outro evento bastante concorrido é o Fringe, que não tem curadoria, com participação voluntária de companhias profissionais que recebem apoio de produção do evento, enquanto o Guritiba, voltado para o teatro para a infância, reforçam a proposta de formar plateia.

“O festival é um grande encontro, uma grande festa. Cada vez menos as pessoas interagem pessoalmente e por isso as atividades que desenvolvemos requerem a proximidade humana. A artesania característica da arte performática é fundamental na proposta que trazemos a Curitiba porque a gente quer promover o aprimoramento do repertório. Quando a gente propõe isso para crianças, por exemplo, fortalecemos os primeiros contatos com a arte, que promovem, na minha opinião, o aperfeiçoamento humano”, enfatiza o criador do festival, Leandro Knopfholz.

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