O crítico Olney Kruse dividiu a experiência de estar diante das obras de Reynaldo Fonseca em dois momentos: primeiro o silêncio, depois a angústia. Essa inquietação ao contemplar os quadros do mestre pernambucano de 88 anos dá-se porque suas telas ostentam uma ambiguidade: seres imóveis em aparente tranquilidade surgem presos a olhares profundos, que guardam segredos e malícias. Se existe um tema inesgotável nas mãos do pintor, ele está condensado nas crianças. Os pequenos personagens de Reynaldo são incógnitas, isentos de ingenuidade e parceiros de crimes silenciosos ao lado da natureza e dos animais. Mas tudo isso é retratado com um toque inconfundível de refinamento, em gestos delicados com num balé de cenários estáticos, eternizados em traços extremamente meticulosos. Neste sábado (15), às 10h, a galeria Arte Maior expõe uma coleção de gravuras inéditas de Reynaldo, dividida em duas séries: Infância I e Infância II.
Além da exposição, as gravuras serão lançadas em dois álbuns independentes, cada um com 11 peças distintas. Produzidas nos anos 1978 e 1979, as gravuras revelam um olhar de Reynaldo sobre a infância em preto e branco. Guardados em seu acervo particular há 35 anos, os desenhos são todos feitos com bico de pena.
No livro lançado em março deste ano, organizado pelo marchand Sérgio Oliveira – que também está à frente da mostra – Reynaldo publicou boa parte das gravuras exibidas hoje. No entanto, os desenhos integram uma parte de seu trabalho que ele nunca vendeu ou mostrou ao público antes porque as considerava objeto de estudo pessoal.
“Reynaldo é muito dedicado e acompanhou todas as fases do projeto”, explica Sérgio, ao lembrar que as impressões das gravuras foram refeitas até chegarem no tamanho e na cor ideal.
INSPIRAÇÃO
Muitas das peças expostas foram reproduzidas em telas depois, ou serviram de inspiração para personagens de outros quadros. Incansável no seu ofício (Reynaldo pinta todos os dias das 8h às 17h, religiosamente), o pintor é daqueles que põe todo seu talento e dedicação nos mínimos detalhes. Seja o detalhe o próprio esboço que virá, ou não, a ser um quadro exposto. Ou os detalhes da própria tela, cuja dimensão pode revelar minúcias que passam desapercebidas pelos espectadores apressados.
As gravuras exibidas hoje são parte do processo criativo do pintor e deixam a imaginar o que mais guardarão os baús do lar do artista, que começou a pintar desde a própria infância, quando trocava os brinquedos de criança por aquarelas e pincéis.
Leia a matéria completa no Caderno C deste sábado (15). 9.600/ 1600/ 1400