Histórias como a expulsão de Adão e Eva do paraíso e a dos irmãos Caim e Abel foram interpretadas pelo artista Roberto Ploeg em pinturas que estão entre as 25 obras da exposição Pretextos."Quero fazer uma pintura 'histórica' contemporânea que testemunha e que procura analisar nosso tempo à luz de narrativas bíblicas", resumiu o artista no texto da individual inaugurada nesta terça-feira (29/7) na Arte Plural Galeria.
Ploeg nasceu na Holanda e veio ao Brasil em 1979 devido ao mestrado dele sobre a teologia latino-americana. Desde 1982, o artista mora no Nordeste brasileiro. Para o curador Raul Córdula, esta exposição "representa o amadurecimento da ideia de plasmar nas telas o ponto central da Teologia da Libertação: a religião é a sacralização da vida".
As referências religiosas podem ser observadas nas cenas de uma Procissão do Senhor Morto em Olinda, na forma como as figuras são dispostas na tela ou, de maneira ainda mais sutil, por conexões sugeridas pelos nomes das pinturas. A linha que o artista segue em Pretextos não é a de representar personagens bíblicos. Ele suscita leituras sobre a humanidade.
O óleo sobre tela Caim e Abel, por exemplo, não mostra um assassinato entre irmãos biológicos. Faz uma metáfora sobre a fraternidade. Ploeg lembrou de uma parte da história na qual, após ter matado o irmão, Caim responde a Deus que não sabe onde está Abel. O artista fez uma conexão com um caso que conheceu pelos jornais, de um homem que morreu em casa sem atendimento. "Na pintura falo sobre esta sociedade em que não se responsabiliza pelo irmão", explica.
O conjunto de pinturas exposto por Roberto Ploeg é cheio de detalhes à espera de um observador atento. Além das referências extraídas das narrativas bíblicas, o holandês radicado em Olinda mobiliza inspirações de diversos momentos da história da arte. "Ele é um artista com uma grande cultura pictórica. Sabe pintar e estudou a pintura em vários aspectos", ressalta Raul Córdula.
Para citar um dos casos em que isto pode ser notado, há, na pintura Os cordeiros de Deus, uma menção a uma das criações do pintor Jan van Eyck (1395-1441), Adoração do cordeiro místico. Ploeg agrupou seis cordeiros no centro da obra. "Coloquei vários, de todas as cores e tamanhos, como um símbolo de que a vida só se salva se todo mundo assumir uma vida messiânica", explica (uma das definições para a palavra messias é a de reformador social).
Quem quiser observar detalhes como estes pode participar de uma visita à exposição guiada pelo próprio Ploeg. O encontro ocorre nesta sexta-feira (1º/8), às 16h.
O texto completo está no Caderno C desta terça-feira (29/7), no Jornal do Commercio.