Aos 88 anos, Zé Santeiro faz jus ao apelido pelo qual se tornou conhecido. O ofício – de garimpador de peças de arte sacra – virou sobrenome. Na pia de batismo, aliás, parecia haver a predestinação: José dos Santos é o que consta na certidão de nascimento.
Em sua casa, Zé abriga cerca de três mil unidades, que ele recolheu praticamente de porta em porta, movido pelo dom e o conhecimento acumulado para farejar uma peça rara.
Há 73 anos, Zé Santeiro começou sua coleção. Há 15, ele luta para conseguir destinar seu acervo a um museu. Ele teme pelo futuro de um ajuntamento tão rico e cuidadosamente montado. São Cristos, Virgens Marias, candelabros, oratórios e altares dos séculos 17 a 19. O desejo de Zé Santeiro era que o poder público arrematasse a coleção para que ela permanecesse para sempre disponível aos pernambucanos, exibida em algum espaço bem-mantido. Ambição nunca concretizada.
“A questão do futuro de uma coleção é um assunto complexo, especialmente na realidade econômica e social brasileira, em que a sociedade vê, a todo instante, a manutenção de suas instituições culturais ameaçadas”, compreende o artista plástico e curador André Venzon.