O Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA) lançou o Prêmio Eduardo Souza de Artes Visuais 2019, cujas inscrições se encerram dia 31 de março. O edital irá selecionar dois projetos de artistas, grupos ou curadores iniciantes, residentes em Pernambuco, que serão contemplados com bolsas de pesquisa e produção no valor de R$ 2,5 mil (cada).
As propostas serão desenvolvidas com acompanhamento das artistas Ana Lira (BRA) e Karen Packebusch (ALE) e apresentadas publicamente em uma mostra de processos na sede do CCBA, em agosto deste ano. O edital também está disponível no site do CCBA .
A obra do alemão Zacharias Wagener (1614-1688) é o de partida para a reflexão acerca das narrativas criadas sobre a população negrodescendente no Brasil proposta nesta edição. Nela, vê-se a representação de uma cena no local hoje chamado de Rua do Bom Jesus, no Recife. A capital pernambucana foi uma das primeiras cidades do Brasil a entrar na rota do tráfico de pessoas e a implantar sistemas escravistas. Entre as diversas imagens realizadas, na época, está a pintura do alemão Zacharias Wagener, produzida no século 17. Uma vista de um mercado público em que povos negros forçados à escravidão eram vendidos para comerciantes da região.
O edital impulsiona os artistas a, a partir dos questionamentos gerados pela obra de Wagener, refletir, dentro do campo das artes visuais, os espaços, estratégias, metodologias, técnicas, simbologias, ritualísticas ou quaisquer outros caminhos de materialização de respiro e reflexão crítica. O objetivo é tanto rever historicamente a narrativa oficial quanto descolar as narrativas negrodescendentes do peso da imagem e das experiências criadas pelo sistema escravista.
Para isso, o edital solicita o envio de propostas que possam ativar duas proposições. A primeira evoca a necessidade de olhar para a trajetória das populações negrodescendentes por outros caminhos, que não sejam os dos corpos eternamente subjugados. Que outras trajetórias os descendentes destas populações escravizadas escreveram? Quais as potências produzidas pelas experiências da diáspora na cultura brasileira, após séculos de cárcere, violências e silenciamentos?
A segunda solicita o reconhecimento de uma narrativa de violência e seus impactos nas relações econômicas, sociais e de trabalho 130 anos após a assinatura da Lei Áurea. Quais dinâmicas na sociedade brasileira ainda carregam resquícios deste sistema na vida contemporânea, incluindo o campo da arte?