O fascínio com a gastronomia é um fenômeno contemporâneo – vide, por exemplo, a proliferação de chefs celebridades, o sucesso de livros, séries e programas voltados para a área. Há 80 anos, quando Gilberto Freyre lançou Assucar, estudar a alimentação como uma forma de entender a sociedade era raro, o que só reforça a importância dessa obra. Para celebrar este marco, é inaugurada nesta sexta-feira (15), às 10h, na sala Mauro Mota da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Casa Forte, exposição que leva o nome do livro e reúne objetos relacionados à especiaria estudada por Freyre.
Para Ciema Mello, antropóloga do Museu do Homem do Nordeste e curadora da exposição, entre as muitas qualidades de Gilberto Freyre, é incontornável seu olhar intuitivo e vanguardista para as minúcias da experiência social.
“Assucar é um livro que foi ganhando consistência com o tempo e hoje é considerado o texto inaugural da antropologia da alimentação no Brasil. Hoje, todo mundo fala em comida para além da função básica de sobrevivência e Freyre já observava isso ao entender o açúcar como um ingrediente social, não só em Pernambuco, mas no País. Comida é uma marca identitária, uma ferramenta de compreensão da vida social”, aponta Ciema.
A partir desse conceito, a exposição se estrutura como uma espécie de festa de casamento indissolúvel – de um autor e sua obra, de um ingrediente com um povo. O público terá contato com 150 peças do Museu do Homem do Nordeste (MUHNE), como pinças de açúcar, açucareiros, jogos de louça e toalhas de mesa.
A memorabilia reúne peças dos antigos museus do Açúcar, de Arte Popular e de Antropologia, posteriormente unidos no MUHNE.
“O centro da exposição é uma fotografia do Gilberto Freyre e, onde estaria o bolo de casamento, pusemos a primeira edição de Assucar, com o autor olhando enamorado para sua obra. É uma mostra muito delicada, que entende o seu tema como um desencadeador do convívio social”, reforça a antropóloga e curadora.
O texto de apresentação da mostra é assinado por Maria Lecticia Cavalcanti, imortal da APL e pesquisadora da área de alimentação, com títulos publicados como Negro Açúcar, História dos Sabores Pernambucanos e Gilberto Freyre e as Aventuras do Paladar. O membro da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Falcão, também contribui com reflexões sobre o legado do intelectual pernambucano.
Às 19h, haverá uma festa aberta ao público no quintal do casarão Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães com mesa de comidas tradicionais, cujas receitas estão no livro. A festividade dá início também às comemorações dos 70 anos da Fundação Joaquim Nabuco.