Desafiar as representações hegemônicas e excludentes do povo negro é o principal pilar da exposição Afrografia, que é aberta ao público sábado (26), às 16h, no Museu da Abolição. A mostra reúne trabalhos de 11 fotógrafos e oferece visões múltiplas e afrocentradas de temas como religiosidade e manifestações da cultura popular.
A partir desse desejo inicial de questionar as construções historicamente racistas no campo da arte, os artistas perceberam aproximações em seus interesses temáticos e experiências. Coletivamente, Rennan Peixe, Kayo Ferreira, Karla Fagundes, Priscilla Melo, Jadson Dantas, Jan Ribeiro, Rodrigo Ramos, Renata Mesquita, Marlon Diego, Rodrigo Ramos e Laila Swahili reuniram trabalhos de seus acervos que giravam em torno dos eixos escolhidos por eles.
“Para a gente era muito importante pensar como fomos representados durante séculos e, agora, pegarmos essa ação e autonomia para que nós nos representássemos”, explica Karla Fagundes. “A curadoria partiu dessas investigações das religiões de matrizes africanas, como registros da Caminhada dos Terreiros, e dos brinquedos da cultura popular, como maracatu, afoxé, congada. São registros da identidade do povo negro.”
A partir da troca de vivências e olhares artísticos, os artistas montaram um coletivo, cujo objetivo é continuar as ações e produzir desdobramentos de Afrografia.
“Essa coletividade nos fez pensar não só a imagem, mas também na questão do acesso aos editais públicos, aos espaços que são legitimadores de arte, como galerias e museus, e com a circulação das nossas imagens se reconfiguram. São várias inquietações que fizeram com que a gente se reunisse. As nossas imagens não são só uma produção estética, não se esvaziam só na ideia de arte, mas têm relação imbricada com a questão social, com o comprometimento das nossas comunidades, que a gente pertence ou tem afinidade”, reforça Karla.
Um ponto reforçado pela artista é a importância do Museu da Abolição, que tem um trabalho enfático na abertura para projetos de pensamento decolonial, com políticas afirmativas para o povo negro. Karla destaca ainda a importância do diálogo da instituição com a comunidade afro-brasileira, pautado pela horizontalidade.
Durante a abertura da exposição serão realizadas apresentações culturais, rodas de diálogo, debates e uma programação com foco na necessidade compreender o local de fala, na preservação e difusão das tradições do povo negro.