Hal Hartley e a neta de Allende são destaques no Festival do Rio

Além de apresentar ao público carioca seu novo longa, Ned's Rifle, ele participa do evento com uma master class. Márcia Tambutti Allende virou cineasta movida pelo desejo de contar como o golpe militar afetou a família dela
Luiz Carlos Merten/Agência Estado
Publicado em 07/10/2015 às 10:47
Além de apresentar ao público carioca seu novo longa, Ned's Rifle, ele participa do evento com uma master class. Márcia Tambutti Allende virou cineasta movida pelo desejo de contar como o golpe militar afetou a família dela Foto: Festival do Rio 2015/Acervo


Hal Hartley lembra-se perfeitamente de quando esteve na Mostra, no final dos anos 1990. "Vim com minha mulher e nos levaram a uma, como se diz?, escola de samba. Havia todas aquelas pessoas que cantavam e dançavam. Mulheres com crianças no colo. Nunca havia visto aquilo. Nunca me esqueci." O diretor está no Rio de Janeiro, como convidado do festival de cinema da cidade, para ministrar na tarde desta quarta-feira (7/10), uma master class. Também apresenta ao público carioca o novo longa, Ned's Rifle, que integra a trilogia formada por Henry's Fool e Fay Grim. Ned é filho de Henry e Fay. Passaram-se 18 anos do primeiro filme e nove desde o segundo. Lá no seu começo, Hartley virou referência da produção indie. Hoje, reconhece que a produção independente mudou muito, quase tanto como o mainstream, isto é, Hollywood. "Virou um nicho de mercado e os autores se repetem como no cinemão."

Ele reflete sobre seu estilo: "Os críticos me rotularam como autor da estética da banalidade. Disseram que eu buscava o 'ordinário', mas que, eventualmente, o extraordinário invadia meus filmes". Em obras como A Incrível Verdade, Confiança, Simples Desejo ou Flerte, mais que no naturalismo, que sempre o incomodou, ele buscava o minimalismo. Sua master class vai se chamar Lição de Vida, mais que de arte.

Mas que ninguém se iluda, Hartley é cético em relação ao 'realismo'. Faz um desenho para ilustrar uma reflexão. Dois círculos - "Um representa o ator, outro, o personagem. Veja que há um trecho em que se superpõem. Essa 'franja', por assim dizer, é o que me interessa. Nunca quis um ator que se apagasse no personagem. Meu ideal é que o público não se aliene, mas veja o ator por trás do personagem".

É um pouco sobre isso que Hal Hartley promete falar nesta quarta-feira (7/10). Sua master class deve se realizar na sede do festival, um prédio que, no passado, abrigou a antiga UNE, União Nacional de Estudantes, no Flamengo. O prédio tem história. A par da parte operacional do Festival do Rio, abriga convidados e imprensa. É ali que o repórter conversa com Hartley e também com Márcia Tambutti Allende, neta de Salvador Allende, que mostra no Rio Allende, Meu Avô Allende

Bióloga, Márcia virou cineasta movida pelo desejo de contar como o golpe militar afetou sua família. Ela tinha um ano e dez meses na época quando houve o ataque ao Palácio de La Moneda, em setembro de 1973. "Meu irmão de 8 anos soube da morte de meu avô acompanhando o bombardeio pela televisão. Ninguém merece isso." Márcia viveu boa parte da vida no exílio. "Durante muito tempo, minha família não admitia falar no assunto. Para mim, tornou-se essencial encarar a questão. Não é só a minha história. Muitas famílias chilenas preferiram silenciar a expor sua dor. Como muitos outros jovens, e nem sou tão jovem assim, acho importante verbalizar, mostrar. Ninguém vive tranquilo com esqueletos no armário."

O festival homenageia o centenário de Orson Welles com uma extensa programação de filmes e debates. Soberba, Otelo, Volta ao Mundo com Orson Welles, uma série de 25 episódios que ele fez para TV, em 1955. No sábado (10/10), Nelson Pereira dos Santos faz a ponte entre o criador de Cidadão Kane e o Cinema Novo. Na sequência, Joel Pizzini fala sobre Welles, Glauber e Rogério Sganzerla.

*As informações são do jornal O Estado de São Paulo.

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