Emilie Lesclaux e Rachel Ellis: as gringas do cinema pernambucano

As duas produtoras se destacam na cena cinematográfica do Estado
Ernesto Barros
Publicado em 04/01/2016 às 5:27
As duas produtoras se destacam na cena cinematográfica do Estado Foto: Diego Nigro/JCImagem


No atual boom do cinema pernambucano não apenas os diretores se destacam. Por trás dos filmes do cinema local, existem duas produtoras fortes: a francesa Emilie Lesclaux e a inglesa Rachel Ellis. Nesta conversa, elas falam da formação que tiveram em seus países de origem, das parcerias com os maridos, os cineastas Kleber Mendonça Filho e Gabriel Mascaro, respectivamente, e da vida no Brasil, onde moram há mais de 10 anos.

EMILIE LESCLAUX - Sou cinéfila desde pequena, sempre gostei de filmes e queria fazer algo com cinema. Mas também gostava de humanidades e preferi fazer uma formação mais geral, que, na França é o curso de ciências políticas. Rachel, por acaso, tem um percurso parecido com o meu. Na França, a escola de ciências políticas é bem aberta, você estuda um pouco de tudo, mas sempre achei que depois faria cinema. Ao concluir os estudos, participei de um programa para se ganhar experiência numa embaixada, com cooperação internacional. Foi quando vim trabalhar no Consulado Francês, no Recife, na área de cooperação cultural, que envolvia mostras de cinema. Foi assim que conheci Kleber Mendonça Filho, que era crítico de cinema do Jornal do Commercio e também trabalhava na Fundaj.

RACHEL ELLIS - É pura coincidência, mas a nossa trajetória é bem parecida. Eu nasci e fui criada em Londres. Lá, é preciso que você saiba desde cedo o que quer fazer. Com 18 anos, fiquei dividida entre cinematografia - meu interesse por cinema vem desde cedo também - e ciências políticas. Escolhi ciências políticas, com foco nos países em desenvolvimento, e também estudei espanhol. Depois, passei um ano no Equador e dois na Tailândia, até fazer um mestrado em políticas públicas. Já no Recife, após trabalhar numa ONG britânica, que atuava com cooperação internacional, criei com outras três pessoas o projeto Fotolibras, de fotografia participativa com jovens surdos. Quando conheci Gabriel Mascaro, ele estava para lançar Um Lugar ao Sol e perguntei como ele estava pensando em distribuir o filme. Eu fiquei muito impressionada com o poder do documentário enquanto ferramenta para provocar debates em escolas, cineclubes e diferentes espaços. Eu disse para ele para tentarmos fazer uma distribuição alternativa.

EMILIE - A gente casou e, quando terminei meu trabalho, começamos a trabalhar juntos. Kleber fazia as coisas de maneira muito autodidata, sem uma estrutura de produção, e, naturalmente, eu preenchi essa falta. Comecei trabalhar aos poucos, com coisas simples e depois fui aumentando as minhas responsabilidades, como inscrever projetos em editais. Depois montamos uma empresa e foi mais ou menos assim que tudo aconteceu. Eu sempre quis fazer cinema, só não sabia em que área exatamente iria trabalhar. No início, eu achava que iria escrever roteiros. Por acaso, acabei me envolvendo com produção. De qualquer forma, sempre tenho muito interesse pela parte artística do processo criativo, sempre estou próxima da escritura do roteiro, dando uns pitacos, e da montagem, que eu adoro. Eu cheguei a fazer um pouco de montagem também em alguns filmes, em que, na verdade, fiz um pouco de tudo. Mas a área que predomina é a produção.

RACHEL - A minha entrada na produção se deu dessa forma porque eu tinha interesse no cinema, mas se definiu quando tive a oportunidade de pegar um documentário forte, controverso, e trazê-lo para ser usado como ferramenta na educação. A partir daí, fui me envolvendo cada vez mais e gostando cada vez mais e, também, como Emilie, me envolvi criativa e artisticamente nos projetos. Para mim, isso é muito forte. Eu não tenho o mínimo interesse em me envolver por interesse puramente financeiro com nenhum projeto. Eu leio todos os tratamentos dos roteiros, inscrevo-os na época em que decidimos mandá-los para os editais e fundos, comento e critico. Gosto da montagem também, adoro acompanhar e questionar se precisamos mudar alguma coisa ou não.

Leia a reportagem completa na edição desta segunda-feira (4/1) no Caderno C, do Jornal do Commercio.
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