A falta de diversidade entre os atores e atrizes indicados para a próxima cerimônia do Oscar tem causado um verdadeiro terremoto em Hollywood, onde nesta terça-feira (19) as vozes indignadas continuavam subindo.
Pelo segundo ano consecutivo, nenhum artista nem diretor negro estará na disputa por uma estatueta dourada e as redes sociais fervem com a hashtag #OscarsSoWhite (Oscar muito branco, em inglês).
Os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana deixaram de fora da corrida Will Smith ("Concussion"), Idris Elba ("Beasts Of No Nation"), Michael B. Jordan ("Creed") e os protagonistas de "Straight Outta Compton".
A controvérsia atingiu o ápice quando a presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, deu um passo adiante na noite de ontem para reconhecer sua decepção diante do panorama apresentado pela mais prestigiosa premiação do cinema mundial.
"Eu estou envergonhada e frustrada com a falta de diversidade", disse Boone Isaacs em comunicado. "Este é um debate difícil, mas importante, e é hora de fazer grandes mudanças", reconheceu.
Desde que assumiu a presidência da Academia em 2013, Cheryl Boone Issacs estimula a diversidade, mas ela admitiu que "a mudança não chega tão rápido quanto desejamos".
"Devemos fazer mais, melhor e mais rápido".
Nos próximos dias, a organização vai revisar o processo de candidatura de novos membros "para conseguir a tão necessária diversidade", segundo prometeu a presidente.
A Academia é formada por 6.000 membros, entre os quais 94% são brancos e a maioria homens, enquanto os negros e os latinos representam cerca de 2%, segundo o jornal Los Angeles Times.
GEORGE CLOONEY, INCOMODADO
A reação de Boone Isaacs foi fruto da mobilização inédita de inúmeras estrelas de Hollywood, irritadas pela hegemonia de intérpretes brancos nas categorias principais.
George Clooney, vencedor de dois Oscar, foi o último a dizer em voz alta que a indústria do entretenimento está caminhando "na direção errada".
"Se olharmos 10 anos atrás, a Academia fazia melhor", disse Clooney nesta terça-feira à revista Variety.
"Mas eu não acho que é um problema de quem escolhemos, mas um problema de oferta: qual é o espaço dado às minorias nos filmes, especialmente nos filmes de qualidade?" questionou.
"Os cidadãos norte-americanos têm razão quando dizem que a indústria não os representa bem", agregou.
O cineasta Spike Lee protagonizou até agora a crítica mais contundente ao anunciar na segunda-feira que irá boicotar a entrega de prêmios de 28 de fevereiro no teatro Dolby de Los Angeles.
"Como é possível que, pelo segundo ano consecutivo, os 28 aspirantes às categorias de ator e atriz (principal e coadjuvante) sejam todos brancos?", escreveu em carta aberta que publicou no Instagram.
Em uma atitude separada, a atriz Jada Pinkett Smith (esposa de Will Smith) anunciou em um vídeo que também não assistirá à premiação.
"Implorar reconhecimento ou inclusive pedir nos tira dignidade e poder, e nós somos um povo digno e poderoso", afirmou.
"Hey, Chris", completou, em referência ao apresentador do Oscar em 2016, o humorista negro Chris Rock, "não estarei na premiação da Academia e nem vou assistir, mas não posso imaginar ninguém melhor para fazer este trabalho este ano que você, amigo. Boa sorte".
David Oyelowo, Don Cheadle e Cuba Gooding Jr. são outros dos artistas negros mais reconhecidos em Hollywood que criticaram a lista de indicados.
Lee, que recebeu no ano passado um Oscar honorário por sua carreira como diretor e ator, chamou a atenção dos executivos que dirigem os estúdios de Hollywood pela ausência de minorias na competição pelo Oscar.
"Gente, a verdade é que não estamos nesses estúdios. E até que as minorias não estejam, os indicados ao Oscar continuarão sendo brancos como leite", escreveu.