Tubarão vira vítima e empresário vilão em filme de Claudio Assis

Vilão tradicional do cinema, o tubarão passa a ser a vítima no novo filme de diretor pernambucano
JC Online
Publicado em 05/02/2017 às 11:41
Vilão tradicional do cinema, o tubarão passa a ser a vítima no novo filme de diretor pernambucano Foto: Foto: Jeff/Flickr-Creative Commons


Vilão tradicional do cinema, o tubarão passa a ser a vítima no novo filme do diretor pernambucano Cláudio Assis. Com Piedade, seu novo longa estrelado por Fernanda Montenegro, Irandhir Santos, Matheus Nachtergaele, Cauã Reymond e Gabriel Leone, o cineasta volta suas lentes para a construção do Porto de Suape e suas consequências no litoral do Estado. 

"O filme fala sobre ecologia, exploração, sobre a vida. Quando era estudante, participei e fiz passeata contra o Porto de Suape, porque, naquela época, a gente já sabia do desastre ecológico que ia acontecer. E aconteceu. Foi o Porto de Suape que fez com que o tubarão pegue o povo em Boa Viagem. Já me disseram que esse era o primeiro filme no qual o tubarão não era o vilão e sim a vítima”, pontuou Cláudio, em conversa com o JC durante a filmagem de cenas do núcleo do personagem de Matheus, na Reserva do Paiva. 

Em seu novo longa, Cláudio Assis toma como ponto de partida a dicotomia entre os interesses de um capitalismo sem qualquer preocupação social em oposição às vivências dos moradores de uma região e à natureza. Na obra, um executivo paulista, vivido por Nachtergaele, chega a uma praia do Litoral Sul de Pernambuco, a mando de uma empresa petrolífera. Sua missão é remover os moradores da área, a fim de garantir a exploração dos recursos naturais.

SUAPE

O diretor reforçou ainda que grande parte da potência do filme é justamente sua ligação com a realidade. A Ilha de Tatuoca, em Suape, por exemplo, fonte de uma longa disputa do poder financeiro com os moradores que a habitam há gerações, é o cenário da residência e do bar da família da matriarca vivida por Montenegro. Lá, reside ainda Seu Biu, último morador a resistir à expulsão dos nativos, que se foram por falta de infraestrutura e/ou pela pressão do das grandes empresas.

“O título do filme fala justamente da falta de piedade. É sobre o inevitável caminhar o capital versus a derrocada cada vez maior daquilo que nos era mais caro, precioso, e vive nas pequenas relações, nos pequenos negócios, nos negócios de família gerenciados há gerações. Aquelas pessoas não são miseráveis. Elas estão bem. E é aí que surge o problema para o meu personagem, que tem que removê-las a todo custo”, refletiu Nachtergaele, que vê no personagem um desafio na sua carreira, já que não costuma ser chamado para papéis mais “aburguesados”.


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