Livraria Cultura sedia lançamento de obra sobre Stanley Kubrick

Publicitário paraibano Marcius Cortez, autor de ensaio sobre o cineasta, acompanha noite de autógrafo e debate com o professor Paulo Cunha, da UFPE
Ernesto Barros
Publicado em 09/11/2017 às 7:12
Publicitário paraibano Marcius Cortez, autor de ensaio sobre o cineasta, acompanha noite de autógrafo e debate com o professor Paulo Cunha, da UFPE Foto: Warner Bros/Divulgação


Nascido em João Pessoa, criado em Natal, o publicitário Marcius Cortez, 73 anos, também viveu no Recife, no inicio da década de 1960, quando trabalhou com o pedagogo Paulo Freire. Na época, apaixonou-se pelo cinema e participou do movimento cineclubista. A paixão pelo cinema nunca foi esquecida. Hoje, ele lança na Livraria Cultura do Paço Alfândega o ensaio Stanley Kubrick, o Monstro de Coração Mole, às 18h30, que será seguido de uma conversa com o professor Paulo Cunha, da UFPE.

JORNAL DO COMMERCIO - Por que você considera Stankley Kubrick um monstro de coração mole?
MARCIUS CORTEZ - Kubrick não estava muito aí com esse negócio de monstro. No máximo, ele até pode se considerar um monstro sagrado do cinema, mas de resto Stanley Kubrick é só uma pessoa que nos alertou que apesar da escuridão que nos cerca temos que fazer a nossa própria luz.

JC - Kubrick era muito perfeccionista. Para você, qual foi o maior desafio em escrever sobre ele?
CORTEZ - Sem dúvida foi um desafio e tanto. Mas usei a sua fórmula: "the real is good, interesting is better".

JC - Desde quando você acompanha a obra de Kubrick?
CORTEZ - Morava em Natal quando vi A Morte Passou Por Perto, em 1956. Ainda não estava recuperado do impacto quando estreou O Grande Golpe. Antes do filme entrar em cartaz, o jornalista Berilo Wanderley chamou a mim e a dois amigos e declarou: "Prestem atenção nesse Kubrick. Ele vai ser um dos maiores diretores do cinema".

IMPACTO

JC - Qual foi de Kubrick lhe causou mais impacto?
CORTEZ - SK é o campeão das imagens "tapas na cara". Cenas inteiras de Laranja Mecânica; a cachoeira de sangue e o terror psicótico de Jack Nicholson em O Iluminado; o osso fundindo com a nave interplanetária em 2001; o suicídio do soldado perseguido pelo sargento em Nascido Para Matar; o major vaqueiro a cavalgar a bomba em Dr. Fantástico; as pessoas mascaradas na orgia de De Olhos Bem Fechados; a luz do século XVIII em Barry Lyndon. Então é o conjunto desse "legado de impacto" que me impressiona em sua filmografia.

JC - Durante quase toda sua carreira, ele rejeitou Medo e Desejo, seu primeiro filme. Assistindo-o, hoje, mais de 60 anos depoisd e sua realização, o filme merecer ser reabilitado como um verdadeiro filme de Stanley Kubrick?
CORTEZ - O "olho do fotógrafo narrador" já está em Medo e Desejo. Quem pretende estudar a obra do diretor precisa levar em conta esse filme que ele considerava pretensioso e confuso.

JC - Qual o maior legado que ele deixou para os amantes do cinema?
CORTEZ - Vou responder usando uma metáfora poética: Para Kubrick, os rios não correm para o mar, os rios correm para os olhos.

JC - Você vê reflexou da obra dele em algum diretor de cinema da atualidade?
CORTEZ - Kubrick é moeda única. Igual a um antigo slogan das Casas Pernambucanas: "sempre imitado, nunca igualado".

JC - Como foi sua experiência no Recife, quando participou de cineclubes e programou sessões de filmes de arte?
CORTEZ - Alex, Fernando Spencer, Celso Marconi foram generosos com aquele jovenzinho que conhecia cinema. Todo domingo pela manhã a gente fazia uma sessão de arte, no começo no Art Palácio, depois no cine São Luiz. Exibimos muita coisa coisa da Nouvelle vague, do Neo Realismo, do Cinema Novo brasileiro. Mas o melhor foi ver a sala que começara vazia ir enchendo com o tempo. Foi em 1964, depois do golpe. A sessão de arte acabou virando ponto de encontro.

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