Filme 'The Square - A Arte da Discórdia' zomba do mundo civilizado

Ganhador da Palma de Ouro de Cannes, longa é uma excelente comédia ácida
Márcio Bastos
Publicado em 04/01/2018 às 11:51
Ganhador da Palma de Ouro de Cannes, longa é uma excelente comédia ácida Foto: Reprodução


Curador-chefe e diretor de um conceituado museu de arte contemporânea de Estocolmo, Christian (Claes Bang) está prestes a abrir O Quadrado, exposição que chega em um momento peculiar da instituição, que se vê pressionada a “viralizar” e atrair mais mídia. Um dia, a caminho do trabalho, ele tem sua carteira e celular furtados em um incidente um tanto quanto bizarro e, para recuperar os objetos, acaba desencadeando uma série de eventos que beiram o surreal. O desenrolar dessas desventuras dá o tom de The Square – A Arte da Discórdia, filme que estreia hoje nos cinemas brasileiros.

Dirigida pelo sueco Ruben Östlund, a obra é uma comédia desconfortável, ácida, que aborda não só o mundo da arte contemporânea, como também a forma como construímos nossas identidades a partir das relações de poder e status social. A figura de Christian é emblemática nesse sentido: com seus quarenta e poucos anos, intelectual, charmoso e bem-sucedido, ele personifica uma ideia de civilidade e “primeiromundismo” associada à Suécia. Porém, esses símbolos vão sendo corroídos à medida em que seu mundo vai sendo perturbado pelos fatores cotidianos que cercam as instalações protegidas, modernas e assépticas do museu que dirige.

Vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2017, The Square é um poderoso retrato dessas tensões que dão o tom do contemporâneo. O quadrado do título, que dá nome à fatídica exposição, parte do conceito de que essa figura geométrica “é um santuário de confiança e cuidado. Dentro de seus limites, todos dividimos direitos e obrigações iguais”. O museu, de alguma forma, funcionaria como essa ideia utópica, porém acaba representando seu oposto. Ali é um reduto de poucos.

Figuras de moradores de rua permeiam o longa, dando a necessária cutucada no conto do bem-estar social, perfeito, vendido pela maioria dos países europeus. A atuação excelente de Cales Bang faz do protagonista um figura fascinante e participações luxuosas, como a da sempre ótima Elizabeth Moss (The Handmaid’s Tales) dão fôlego extra ao roteiro.

A direção certeira de Östlund constrói a tensão necessária que mergulha sem medo no absurdo – como a presença (literal) de um macaco na sala de um apartamento de classe média – e transita entre a comédia ácida e o thriller. Há uma espécie de ameaça constante que por vezes é metafórica e, em outras, palpável. 

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