No festival internacional Séries Mania, em Lille, para apresentar uma série que será lançada em breve na Netflix, a atriz americana Uma Thurman falou de sua trajetória, de suas relações com Quentin Tarantino e sobre a ascensão dos papéis femininos em Hollywood.
"Aos 12 anos, eu disse a minha mãe que eu queria ser atriz, e ela me respondeu: sim, como todo mundo", lembrou a atriz em um evento lotado aberto ao público na terça-feira.
"Não sei como isso foi possível. É, provavelmente, um dos milagres da minha vida. Aos 15 anos, meus pais me autorizaram a ficar independente. Aos 16, fui contratada para meu primeiro filme e nunca mais parei de trabalhar desde então", contou.
Suas modelos? Doris Day, Meryl Streep, Diane Keaton, ou Audrey Hepburn.
Desde a estreia com Terry Gilliam ("As aventuras do barão de Munchhausen"), sua carreira conta com vários filmes icônicos, como "Ligações perigosas", "Gattaca - experiência genética", "Ninfomaníaca", e algumas séries de televisão. Mas foi principalmente por seu papel no filme de Quentin Tarantino "Pulp Fiction - tempo de violência" e depois em "Kill Bill" que ela se tornou conhecida.
"Tenho muita sorte de ter vivido isso", reconhece a atriz, de 49 anos, que também falou das difíceis condições de filmagem de "Kill Bill".
No início de 2018, seu testemunho se somou ao de uma longa lista de vítimas do produtor Harvey Weinstein, e ela acusou Tarantino de tê-la posto em perigo quando ela foi vítima de um grave acidente de carro na produção de "Kill Bill 2".
Embora não tenha comentado este episódio, a lembrança de uma cena clássica, quando ela tenta escapar de um caixão aos socos, a faz reagir: "vivi 12 momentos de estresse pós-traumático só de olhar para isso".
"Todo mundo ama ouvir os diálogos de Quentin e ver sua criatividade, não tem realmente ninguém que não goste deles", comenta ela, vendo nele "um verdadeiro senso de humor, que não corresponde, com certeza, exatamente ao meu".
"Quando revejo 'Pulp Fiction', penso na minha filha, Maya. Ela tem 20 anos, um bebê...", continua a atriz, celebrando a "correção muito tardia" de Hollywood sobre os papéis femininos, que há alguns meses passou a criar mais heroínas fortes e independentes.
"Estou feliz de ver que há melhores oportunidades para as mulheres e que minha filha terá oportunidades diferentes", acrescenta a atriz, comemorando sua presença no elenco da terceira temporada da série de sucesso no Netflix "Stranger Things".
Uma considera que o movimento #MeToo (sem citá-lo de forma direta) "criou definitivamente um melhor ambiente de trabalho, mais seguro".
"Mas não é preciso que isso restrinja a criatividade das pessoas. É preciso que a gente possa se apaixonar pelo papel principal sem se deixar aprisionar", acrescentou.
Sem revelar sua preferência entre cinema e televisão, ou entre gêneros, Uma Thurman também apresentou a série "Chambers", um "drama familiar, um thriller sobrenatural, onde uma jovem vai viver estranhos efeitos após o transplante de um coração que pertencia a uma garota da idade dela".
"Sou a mãe em luto da jovem falecida. Há muita energia feminina nesta série" criada por Leah Rachel e que tem Uma como coprodutora.
"Sou um pouco a madrinha dela", concluiu a estrela dessa série selecionada para competição na Séries Mania, antes de seu lançamento na Netflix em 26 de abril.