Na noite deste domingo (5), foram anunciados os vencedores do Globo de Ouro 2020. Uma das surpresas da premiação foi a vitória da animação britânica, Link Perdido, sobre franquias famosas como Toy Story, Frozen , O Rei Leão e Como Treinar o seu Dragão. O longa do cineasta Chris Butler esteve em cartaz no Recife durante o mês de novembro do ano passado.
Apostando na simplicidade da sua trama, o filme acompanha um caçador de criaturas fantásticas numa jornada de auto-descoberta e aventuras. No caminho, os personagens devem completar sua missão enquanto lutam para mudar a mentalidade conservadora da época em relação a seres diferentes.
Nos últimos cinco anos, o cinema de animação mainstream vem explorando bastante o campo dos subtextos. As narrativas visuais, que também carregam suas elipses, tornaram-se mais contidas – pontuais na imersão do entretenimento, mas nunca sobrepondo-se à mensagem contida na estrutura dramática.
Um ponto limite entre três características: o cinema panfletário (o que só existe na superficialidade do tema que quer falar), narrativas visuais pouco inventivas ou obras que escapam dessas duas coisas. Link Perdido, de Chris Butler, está no limiar entre elas.
O filme, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas do Recife, não escapa das tendências e armadilhas do gênero, ao mesmo tempo que não decepciona na sua construção dramática – que a classificação indicativa descreve como 10 anos, o que, no mínimo, já alerta para uma história menos mastigada e infantilizada do que a maioria.
O filme acompanha o personagem Sir Lionel Frost, um aventureiro britânico especializado em encontrar criaturas míticas, apesar de nunca conseguir a prova das suas existências. Diante disso sua grande frustração é não conseguir entrar no clube de aventureiros – uma reunião de aristocratas que se detém apenas nos seus feitos: caçar animais de verdade, empalhá-los ou tirar fotografias sobre seus cadáveres.
É para provar isso que parte numa jornada junto ao “Sr. Link”, um Pé-Grande que fala e tem sentimentos como os humanos. É a própria criatura que recruta o aventureiro na intenção de – nas elementares coisas que movem a história –, encontrar outros seres que ele possa chamar de família.Neste cenário, a jornada do personagem circunda sobre o que nunca o filme faz questão de panfletar politicamente: Lionel nunca será como aqueles homens. Suas atitudes, por mais que pendam para o egoísmo, ressoam no subtexto de algo à frente da sua época; portanto, distante do discurso conservador que o grupo traz. Lionel não mata seus alvos para exposição, ele quer descobri-los – provar, a todo custo, que o diferente existe e coexiste naquela realidade.
Link Perdido é feito, basicamente, disso: o mais simples motor dramático – que nunca cai na infantilização exacerbada dos seus temas. O problema é que, em termos de cinema (onde o texto se transforma em imagem), as coisas não são tão bem executadas, mesmo que o filme não penda para o falatório. Visualmente é pouco imersivo, até pela sua diversidade de cenários esquecíveis e sequências de ações mal ambientadas.
O que faz com que Link Perdido não seja qualquer filme é o seu entendimento de onde quer chegar. Não há as grandes catarses dramáticas, ou viradas de mesa surpreendentes. É um filme que o final está escrito no começo – o que nos resta é embarcar nos apaixonantes e singelos processos de auto-descobertas.