'Luta por Justiça' expõe racismo dos julgamentos à pena de morte nos Estados Unidos

O filme conta a história real de um homem condenado sem provas; confira a crítica
João Rêgo
Publicado em 21/02/2020 às 18:16
O filme conta a história real de um homem condenado sem provas; confira a crítica Foto: Foto: Warner Bros/Divulgação


Luta por Justiça é daqueles filmes que o tema que o circunda é infinitamente melhor do que como ele é apresentado.

O longa, que já está em cartaz nos cinemas do Recife, conta o início da belíssima história do advogado negro Bryan Stevenson. Recém-formado em Harvard, o norte-americano (vivido no longa pelo astro em ascensão Michael B. Jordan) abre mão de uma carreira lucrativa, para assistir legalmente prisioneiros condenados à pena de morte.

O local que ele escolhe para atuar é o Alabama, no sul dos Estados Unidos durante o final da década de 80. O que Bryan encontra, no entanto, não é o racismo descarado (como esperado tratando-se do sul). O que não signifique que ele está menor – pelo contrário, agora o racismo está enraizado na vida cotidiana até o funcionamento da justiça e suas leis – sem necessariamente precisar ser sutil.

É nesse cenário que o trabalho do advogado, anti-punitivista por essência, se torna também anti-racista e revolucionário; oferecendo a legalidade para homens negros condenados majoritariamente na ilegalidade.

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Para abranger tudo isso, Luta por Justiça narra o principal caso de Bryan: a prisão injusta de Walter McMillian (interpretado brilhantemente por Jamie Foxx).

McMillian, conhecido como Johnny D., foi um homem negro acusado injustamente de ter assassinado uma mulher branca. Sua cor e condição social bastavam para o Xerife arrumar meia dúzia de provas falsas e condená-lo a cadeira elétrica – com todo aval dos aparatos legais.

Luta por Justiça torna o caso de McMillian, advogado por Bryan, como um comentário geral sobre o funcionamento racista das penitenciárias norte-americanas (e se olhar bem de boa parte do mundo, incluindo o Brasil).

Uma sistemática que ressoa em várias gerações de afro americanos, ressalte-se, como bem apresentado na presença dos filhos de McMillian e outros personagens negros secundários. Todos são trazidos para o centro do filme (como uma espécie de tensão e suspense) quando a ameaça racista das leis é acionada em cena.

É tirado o cobertor do público, alçado a frieza da realidade de um aparato de poder sem limites para subjugar corpos negros.

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A abordagem faz com que as cenas que circundam os pequenos núcleos dramáticos ganhem forças extraordinárias. Até pelo teor do tema tratado, com a morte sempre a espreita dos personagens que nos afeiçoamos.

White savior

A dramatização exacerbada, porém, é um dos problemas do filme – com cenas que parecem gritar pela atenção da temporada de premiação (da qual o filme foi esnobado).

Esse, porém, não é de longe o principal defeito do longa. A tendência “white savior” permeia quase todo andamento de Luta por Justiça. A história parece só andar quando algum personagem branco “sutilmente” racista abdica do seu privilégio a troco de uma redenção. Um fenômeno e tipo de abordagem que pode ser explicado pela cor do diretor do longa, o norte-americano Destin Cretton.

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