Dan Stulbach: 'Toda idade é para ser feliz'

Ator que está no ar em 'A Força do Querer' recebeu a equipe do JC nos bastidores da novela no Rio de Janeiro e falou sobre a carreira e o atual trabalho
Robson Gomes
Publicado em 16/04/2017 às 6:00
Ator que está no ar em 'A Força do Querer' recebeu a equipe do JC nos bastidores da novela no Rio de Janeiro e falou sobre a carreira e o atual trabalho Foto: Fotos: Sérgio Zalis/TV Globo


RIO DE JANEIRO – Ele tem 47 anos de idade. Antes conhecido como “Tom Hanks” ou “aquele da raquete” – devido a seu marcante personagem na novela Mulheres Apaixonadas (2003) – hoje, de talento consolidado, o paulista dá vida ao correto Eugênio em A Força do Querer, no horário das nove da Globo. Ao receber a reportagem do Jornal do Commercio nos bastidores da trama de Glória Perez, fez questão de lembrar que o Recife foi o melhor público de sua peça de teatro, onde diz ser seu verdadeiro lugar. Na conversa, ele fala sobre o atual trabalho na TV, que envolve polêmicas, paixões e, segundo ele, uma boa pitada de brasilidade.

ENTREVISTA // DAN STULBACH

JORNAL DO COMMERCIO – Dan, o seu personagem em A Força do Querer tenta ir em busca da felicidade em pleno amadurecimento. Você conhece algum Eugênio na vida real?
DAN STULBACH – Quando eu era mais novo e fazia engenharia, foi um rompimento para mim e pros meus pais quando decidi ser ator. Acho que esse tipo de rompimento acontece com mais frequência quando você é jovem. Então você quebra expectativas dos seus pais ou as suas mesmos em relação a você em diversos aspectos – profissional na maioria das vezes – com dificuldade, em busca de um sonho, de uma coisa nova, para ser fiel a si mesmo, para ser feliz. E é difícil acontecer com pessoas mais velhas, porque as pessoas vão ficando mais preguiçosas, cansadas, acomodadas. E essa é uma bonita mensagem do Eugênio, um cara um pouco mais velho, numa meia-idade, entre aspas. Mas mostrando que isso é possível o tempo todo. Eu vejo pessoas virando a vida a todo o tempo. Eu dei muita aula de teatro, e tinha alunos de terceira idade, de várias idades. E isso acontecia com frequência às vezes, uma pessoa mais velha, depois do falecimento do seu parceiro, passar a fazer o que quer, isso acontece. Eu acho que toda a idade é a idade para ser feliz e mudar o teu caminho, sem dúvida alguma. E sei de gente que já me telefona, manda mensagem, comenta que o personagem tem inspirado isso, então está ótimo. E é só o começo.

JC – Seu personagem também estará envolvido com a temática trans, através da filha Ivana (Carol Duarte). Pra você, qual é a urgência em tratar sobre esse assunto nas novelas?
DAN – Eu acho fantástico que uma novela que chega em todos os lares do país trate de um assunto que precisa de esclarecimento, de discussão, e não pode ficar nem à margem nem à sombra da ignorância. Quando você fala do assunto, você joga luz sobre ele, diminui o preconceito, traz o esclarecimento e essas pessoas para o protagonismo da discussão. Eu acho que isso é bom não só para a causa trans, mas para qualquer causa. Me repetindo: acho que o preconceito é filho da ignorância. E quando você discute isso em grande escala – tudo numa novela é em grande escala – sempre lembrando que a novela é entretenimento, ela não é para ser didática. Como ela chega em todo o lugar, a novela não é um documentário, mas é feito da maneira mais real possível. Acho que o público precisa saber é que tudo vai ser feito com muita verdade e honestidade. Da autora, do jeito que ela escreveu, da direção e da gente. Vamos tentar dar o maior respeito a essa discussão tão importante.

JC – Como contracenar com a experiente Maria Fernanda Cândido e a estreante Carol Duarte agregaram ao teu trabalho nesta trama?
DAN – A Fê eu conheço há muito tempo. Nós fizemos Esperança (2002) juntos, era meu terceiro trabalho em TV. Éramos um par romântico que não se concretizava. E Fernanda já era uma artista conhecida, já era um ícone da beleza. Nós nos conhecemos naquela novela e sempre nos encontramos desde então, mantendo uma amizade. Eu dirigi a Maria Fernanda numa peça de teatro chamada Toca do Coelho – que levamos ao Recife, inclusive – e ela ganhou um prêmio de Melhor Atriz com essa direção. Somos muitos ligados. É uma parceria muito grande, de muito tempo. Já a Carol foi uma empatia imediata. E eu queria, de cara, me dar muito bem com a família da trama. Eu sou um ator que nunca tive problemas de “química”, como dizem, porque eu busco o outro ator, encontrar a outra pessoa, mesmo que tenhamos diferenças. E nós (eu, Fê, Carol e Fiuk) nos damos muito bem. Nos reunimos para conversar entre a gente e somos muito ligados. Com a Carol, em especial, eu me coloquei ao dispor dela, porque acho que é uma pressão maluca, muito intensa, por conta da estreia (dela) e por conta do personagem. Eu adoro ela como pessoa, e acredito nela como atriz.

JC – O que você emprestou a Eugênio e o que ele tem te trazido até agora?
DAN – Eu acho que Eugênio é um cara ético, correto, até radical na sua correção. Vai ter uma agonia grande porque vai se sentir atraído por uma mulher fora do casamento. Vai ser uma grande questão para ele. É um homem que lutou pelos seus sonhos tarde, eu lutei cedo. Ele anda de terno e gravata, e eu só ando quando tenho que apresentar algum evento. Mas talvez a coisa mais importante pra mim é que eu aprenda com todo o personagem. E eu aprendo porque vivo aquela situação plenamente. Na questão das transexuais, eu chamei cinco trans ao teatro para assistir uma peça minha, depois conversamos e eu gravei aquelas entrevistas pra mim. Então eu aprendo com o Eugênio, vou aprender ainda mais sobre a questão trans, familiar, dos filhos, enfim. Eu me sinto mais preparado hoje em dia. Sou um ator mais maduro, mais aprimorado do que eu estava, para fazer um personagem desses. É um personagem que me possibilita exercer o meu aprendizado nos últimos anos como ator.

JC – Como foi gravar a cena do afogamento de Ruy no primeiro capítulo?
DAN – Uma curiosidade é que quando gravamos aquela cena de desespero do pai, de primeira, a equipe achou que valeu. Mas eu pedi para fazer de novo. A cena que passou na novela foi a sequência que eu pedi para fazer novamente. Porque eu quis fazer do modo mais visceral possível. Porque eu falei: ‘Cara, é um filho, né?’. Fico até emocionado só de relembrar. Eu precisava saber qual era o meu limite. Porque ali, além do desespero total, há uma certa consciência: ‘Porque ele não pula?’. Era nisso que eu pensava o tempo todo: a entrega ao desespero e essa consciência que me segura, que de alguma maneira é uma relação bonita do personagem. Pois ele sempre sabia que precisava se jogar no rio, mas nunca se deixou jogar. Foi uma entrega total. Tinha uma equipe maravilhosa, que me permitiu fazer de novo e deu o maior apoio.

JC – Em breve, Eugênio vai se envolver com a duvidosa Irene (Débora Falabella). Até que ponto viver uma paixão é saudável?
DAN – Paixões são sempre saudáveis. As paixões estão aí para serem vividas. Claro que tem uma questão ética, de respeito, uma questão social. E eu acredito na fidelidade, acho que o Eugênio também. Acho que essa será a agonia dele. A vontade de viver uma paixão que você não controla, e ao mesmo tempo, a obrigação que ele tem com a sua família. Essa é a questão. O questionamento é saber – e é difícil, né? – o tamanho dela, e o quanto vale a pena você abrir mão do que você é ou do que você tem.

JC – É a segunda vez que você trabalha numa obra de Glória Perez. O que mais te chama atenção nas tramas e/ou no texto dela?
DAN – Brasilidade. É a primeira palavra que me vem à cabeça. A mistura de aromas, cheiros, cores, pessoas, lugares, emoções. Você vê nessa novela, o universo da Ritinha (Isis Valverde) e do (ator Marco) Pigossi, por exemplo, uma cor, uma vibração, um jeito de interpretar, um calor. E aí você tem a Juliana (Paes), que está no subúrbio do Rio, que tem uma outra intensidade. Tem a gente, o nosso núcleo, todos atores paulistas (risos), mas que vivemos a classe média carioca. Essa mistura eu acho muito rica, no sentido de Brasil. E eu acredito nesse Brasil da mistura. Eu gosto de mostrar esse País da mistura na TV. E A Força do Querer tem muitas tramas, acontecendo várias coisas o tempo todo, porque Glória é uma autora não economiza. Ela não vai segurar a trama. Ela mantém o público envolvido e para nós, atores, é muito legal porque sempre tem cenas boas para fazer.

JC – Como tem sido pra você voltar às novelas após seis anos? Sentia falta?
DAN – Eu gosto de novelas. Acredito na novela quando ela tem qualidade. Há o popularesco, há o apelo em diversos lugares e setores, mas acredito que quando a novela não cai nesse lugar ela é muito interessante, para o ator e para o público. Nós fazemos a melhor novela do mundo! É um trabalho diário, um gasto enorme com locações, figurinos, entre outras coisas. A Força do Querer é a única novela do mundo que não faz com ponto. A gente decora o texto. Há esse investimento para uma coisa que é passageira, diária. E eu acho isso único no mundo. Agora, minha distância, naturalmente, ela tem relação com o dia-a-dia e o desgaste que se tem com um trabalho longo de dez, onze meses, um ano. Tinha a ver também com o fato que eu preferi morar em São Paulo do que no Rio. Fiz algumas séries nesse período, que duram menos tempo e às vezes são trabalhos mais interessantes, de outros diretores também. E eu gosto de mudar, de variar. Eu tenho uma enorme dedicação e paixão pelo teatro, que é o meu lugar na verdade, é onde eu me sinto mais feliz. Eu me dediquei mais ao teatro nos últimos anos e agora tô conciliando as duas coisas. Também gosto desses reencontros que a novela propõe. Eu fui casal com a Paolla (Oliveira) em Afinal, O Que Querem As Mulheres? (2010) Eu fui casal com a Juliana Paes num filme que fez muito sucesso, o Mais Uma Vez Amor (2005). Fui casal com a Fê (Cândido) em Esperança. Estou reencontrando o (Marco) Pigossi depois de muito tempo. O Humberto nos reencontramos desde Amazônia - De Galvez a Chico Mendes (2006). Eu quando moleque, ia no Teatro ver o (Edson) Celulari, porque ele fazia muito teatro na minha cidade. E aí você tem a Carol que tá começando, eu acho isso muito legal.

JC – Em breve você estará na tela da Band com a estreia de Era Uma Vez Uma História. Pode falar um pouco desse projeto?
DAN – Foi uma série que eu adorei fazer. Quando eu fui pra Band, tinha o convite para ser apresentador, mas eu pedi a eles que montassem um núcleo de dramaturgia também para aproveitar os atores de São Paulo e, eventualmente, os que não tivessem contratados pela Rede Globo. Era um projeto grande, que devido à crise, na emissora, no Brasil e muito mais, acabou sendo reduzido. O resultado dele foi essa série, onde eu chamei a Lilian Schwartz, uma das maiores historiadoras desse país, e a gente concebeu um seriado sobre o império do Brasil. Então a gente anda, ela conta o que aconteceu de uma maneira mais real, tirando um pouco dessa mística toda. É uma série sobre o que realmente aconteceu no Brasil daquela época na visão de uma historiadora. É educativa, para que passem nas escolas, usando a televisão como educação, como esclarecimento, cada um na sua praia. Acho que a televisão pode servir muito, mas sem ser chato, porque a gente passeia, tem as encenações, e aí eu faço uma cena, aí a gente brinca... Há uma interação total e a credibilidade que a Lilian traz.

JC – Você também está no ar de tarde na reprise de Senhora do Destino. Você tem curtido matar as saudades do Edgard?
DAN – Molequíssimo! Eu fico olhando e admirado com as formas que eu resolvia as cenas. Eu fico emocionado, gosto de olhar. Eu não vejo nada que eu faço, não tenho esse costume, e principalmente de coisas que estão entregues. Mas de repente eu entro um dia no camarim e está todo mundo assistindo uma cena minha com o Marcello Antony. E foi um momento muito importante pra mim. Lembro que foi quando eu assinei contrato com a Globo, logo em seguida de Mulheres Apaixonadas. Senhora do Destino foi a novela de maior sucesso do século! Foi ali que eu conheci Aguinaldo (Silva, autor), depois fiz outra novela com ele, talvez faça mais uma. E é uma história que é bonita. A protagonista é uma mulher forte, brasileira. E acho que tem uma mensagem legal lá. Tem uma vilã incrível que é a Nazaré (Renata Sorrah)... Eu gosto de ver, fico curioso de ver aquele menino fazendo. Aí contam que sou eu e aí eu lembro. (risos)

JC – Como foi viver o “Tom Hanks” no filme Os Saltimbancos Trapalhões?
DAN – Sabe que hoje em dia eu ouço bem menos as comparações com ele? (risos) Tanto ele quanto a raquete (do personagem Marcos, de Mulheres Apaixonadas) também. Quando eu falo as pessoas lembram, riem, gostam, e eu acho legal, não tenho problema nenhum com isso. No começo isso era o evento, porque eu era um cara que pouca gente conhecia e tal, por isso as brincadeiras. Eu nunca quis fazer nada que reforçassem essas histórias, mas o Renato Aragão me ligou e era real! Pensei até que era trote. E eu tenho uma maior admiração e respeito pelos palhaços do Brasil, no bom sentido. E Renato era um dos caras que eu imitava quando eu era garoto e Os Trapalhões me fizeram ser o que eu sou. Perguntei então ao Didi o que ele queria de mim. Ele falou da admiração dele por mim, que assistiu ao filme Tempos de Paz, que eu fiz e as pessoas gostam muito, o Dedé (Santana) também. Então ele me explicou como seria a cena e perguntou se eu toparia e disse sim. Eu estava filmando no set de O Vendedor de Sonhos e saí de lá para gravar com eles. Foi um prazer para mim encontrar o Didi. Entrei com o celular no camarim dele e até gravei a nossa conversa. Para mim valeu o filme só de encontrar o cara! É o mesmo que encontrar o Pelé um dia, como eu queria ter encontrado um João Cabral de Melo Neto, como outro dia que eu encontrei Alceu Valença para falar outro dia para falar só dos pernambucanos, enfim. São momentos únicos.

JC – Algum projeto paralelo está em desenvolvimento?
DAN – Continuo com Morte Acidental de Um Anarquista. Uma peça do Dario Fo, que a gente ia ficar três meses em cartaz e estamos agora há um ano e dez. Fizemos o Brasil todo, São Paulo por um bom tempo e agora estamos no Rio. Era para ficar um mês, já vamos ficar dois ou três porque tem muito público e é uma peça que eu acredito muito. Como disse, a minha casa é o teatro e eu gosto sempre de voltar. Não sei se vou conciliar o tempo todo com a novela porque é puxado e exige que eu fique fora de São Paulo. Tenho dois programas de rádio na CBN – passa lá em Recife também e o público de lá que participa muito – chamados Fim de Expediente e Hora do Expediente, onde estou lá há onze anos. E tem os projetos futuros, ideias futuras. Tem convites que aparecem o tempo todo para várias áreas (filmes, dramaturgia, apresentações), mas o bom é fazer da sua vida aquilo que você quer que ela seja. Tem que tomar cuidado de não ficar fazendo sempre o sonho dos outros e fazer o seu também. Não precisa ser ‘ou’, pode ser ‘e’. Então é isso que eu quero agora. Assim que essa peça acabar pretendo estrear outro espetáculo.

JC – O que você pode adiantar do que vem por aí com Eugênio?
DAN – Vem uma relação calorosa e afetuosa com a Irene. Vem muitos problemas com o seu filho Ruy (Fiuk) porque ele vai ficar ‘grávido’ e isso será uma enorme polêmica, difícil para o Eugênio porque ele é um homem ético. E também muitas polêmicas com as questões da sua filha Ivana. Resumindo: Muita polêmica em casa, com seus filhos, sua esposa Joyce (Maria Fernanda Cândido) e uma paixão extraconjugal que ele não vai saber se realiza ou não, além da confusão no trabalho com seu irmão Eurico (Humberto Martins). Vai ter confusão, cenas boas e muitas cenas de emoção, que são as que eu mais gosto.

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