Ruy Castro é o oposto de um nostálgico – para ele, a saudade é um sentimento fácil, um caminho preguiçoso. Olhar o passado e até se apaixonar novamente pelo que passou não significa para o pregar que o presente é um apocalipse: o pessimismo é uma ilusão cômoda demais. O jornalista, um dos principais convidados do festival A Letra e a Voz, vem ao Recife no dia 21de agosto falar de um dos temas que pesquisou e viveu ao longo da sua carreira como biográfo: a crônica esportiva durante o século passado, em conversa com a jornalista Débora Nascimento.
Ruy Castro não só biografou talvez a figura mais interessante do nosso futebol, Garrincha, como também deu forma ao dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues, como ele, um carioca que nasceu fora do Rio de Janeiro, talvez o mais influente nome nessa tradição da crônica do futebol.
Uma das ironias que o próprio autor já reconheceu é que, no seu ofício de jornalista e biógrafo, precisa ser um desses “idiotas da objetividade” que tanto enfureciam Nelson, ainda que sempre procure trabalhar com os temas que ama, com as subjetividades que ele mesmo escolhe. O futebol nacional, tema outrora tão apaixonante para o flamenguista doente, hoje desperta menos interesse. Primeiro, porque foi acometido pela ideia da técnica, da precisão, da objetividade. Depois, ele explica ao JC, porque “não temos um novo Nelson e não temos um novo Garrincha”.
“A seleção se distanciou do povo, ao só usar praticamente jogadores atuando fora do Brasil. Quebrou-se a identidade entre a seleção e os clubes. Com isso, as pessoas passaram a se preocupar só com seus clubes. A pátria em chuteiras, agora, é o time de cada um”, avalia. Em uma crônica para a Folha de S. Paulo, Futebol roupa nova, de 2012, descrevia o futuro sonhado pelo “padrão Fifa” do futebol, que tende a acontecer cada vez mais nas transmissões televisivas e menos nos estádios.
RIO DE JANEIRO
Se o panorama do futebol é o da tristeza da objetividade, o antinostálgico surge com ainda mais força quando o assunto é o Rio de Janeiro. Durante a Festa Literária de Paraty (Flip) deste ano, Castro afirmou que “depois de muitos anos de depressão, o Rio está voltando a ser aquilo que sempre foi na história do Brasil: uma cidade protagonista em tudo que se refere à vida nacional”.
“O Rio continua igual. Há dez anos tínhamos problemas, há 30 anos também e há 50 anos, idem. Só mudam os problemas. A cidade é a mesma, tão bonita, acolhedora e rica como sempre”, explica, desviando-se de críticas ou elogios fáceis.
Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta quinta (15/8).