Desde o sucesso do seu primeiro livro sobre a história do Brasil, 1808, o escritor e jornalista Laurentino Gomes percebeu que havia uma demanda por livros como o dele. A alta vendagem mostrou que existe, sim, interesse por obras históricas: o importante é que sejam feitas com uma abordagem divertida. A trilogia, continuada com 1922, sobre a independência, agora é concluída com 1889, sobre a proclamação da república, sempre pensando a história a partir dos seus bastidores e pela desconstrução e reconstrução dos nossos principais momentos e figuras. Ele é uma das atrações da Fliporto deste ano, em novembro.
O livro segue a receita das primeiras obras, que venderam 1,5 milhão de exemplares: é feito de capítulos que retratam personagens e situação históricas sempre de um ponto de vista despojado, sem criar mitos e se envolvendo nas subtramas. “Agora, os personagens são mais controversos, porque estão mais próximos da atualidade”, comenta Laurentino, em entrevista ao JC. “Nós ainda somos muito afetados pelo início da República. Ainda há muita controvérsia a respeito das estruturas republicanas que construímos e como elas poderiam nos representar. Mais do que os outros dois, esse livro tenta explicar como o Brasil de hoje nasceu”.
Assim, na obra, é possível conhecer um Deodoro da Fonseca que não é tão republicano e, tampouco, representa a renovação, pois já estava idoso e enfermo. O imperador do Brasil, Dom Pedro II, também não era o monarquista mais convicto: já havia escrito que o modelo republicano era o “mais perfeito”, mas queria ele mesmo ser responsável pela transição.
Laurentino alerta que a mudança entre os sistemas foi mínima. “A primeira parte dessa república, até 1984, é exatamente como o período monárquico, é tutelada, é feita de cima para baixo, tanto na república café-com-leite, como com Vargas e a ditadura militar”, explica.
Para ele, o momento de lançamento é oportuno porque os brasileiros começam a não se identificar com as instituições políticas que os representam. “A proclamação da república mostra que é como se a tarefa de construir o Estado no Brasil não estivesse completa. Acho que essa é a grande questão que está pairando sobre nós”, defende Laurentino.
Segundo ele, ainda, traços arcaicos do fazer político continuam vivos por aqui. “Temos essa paixão pela fórmula do salvador da pátria, que já foi testada, mas nunca deu certo”.
Laurentino garante que vai continuar no caminho dos livros sobre a nossa história, só não sabe ainda qual o próximo assunto. “Existem alguns temas que me fascinam mais do que outros: a Guerra do Paraguai, a Inconfidência Mineira, as revoltas do período regencial. Eu só decidi que não vou mais fazer livros com números na capa. Esses eram como uma obra em três volumes”, anuncia. “Vou ter que me reinventar”, comenta.
Leia a matéria completa no Jornal do Commercio deste sábado (28/9)