Antes de começar a novela A única voz (76 páginas, R$ 13), o escritor e cineasta pernambucano Wilson Freire conta a origem da história: seu pai militar escapou por pouco da morte pelo regime, acusado de ser “bonzinho” com comunistas, ainda em 1964. O autor tinha 5 anos naquele momento, mas o fato o marcou. Foi ali que começou a nascer a trama do livro. O volume, com edição artesanal em papelão feita pela Mariposa Cartonera, ganha lançamento no Recife hoje, a partir das 10h, no Box Sertanejo, no Mercado da Madalena.
O livro recupera o período da ditadura brasileira, do ponto de vista de um militante preso. “É uma obra que eu costumo dizer que começou a ser feita há 50 anos. Foi um evento marcante na minha infância, foi minha primeira memória”, explica Wilson. A história mostra um narrador preso e torturado, dialogando com o mundo externo através apenas de um som frio, o do programa de rádio Voz do Brasil. A pretensa totalidade do regime é denunciada no uso de maiúsculas para se referir a essa voz e ao regime, sempre chamado de “Ele”. Além disso, a obra mostra como nenhuma narrativa oficial pode se sustentar diante da vivência dos porões da ditadura.
As posições políticas opostas também entram na obra, a exemplo do que aconteceu no seio da família de Wilson. Na ficção, o narrador parece conversar o tempo todo com seu irmão, que optou pelo caminho do exército. “Quis mostrar as duas faces dessa tragédia”, conta o escritor. Em meio à tortura do protagonista, é possível escutar também os relatos parciais da morte e prisão de outros nomes que combateram a ditadura, como Rubens Paiva.
Wilson começou a esboçar a história na adolescência, quando ingressou na militância. Nessa versão final, a trama ainda ganhou um trecho de um diário, ilustrado por Germano Rabello. O livro também ganhou um trailer, feito pelo próprio autor. Atualmente, o escritor trabalha ainda em uma trilogia, que vai abordar sua infância em São José do Egito e Sertânia e sua chegada ao Recife. A única voz terá outra data de autógrafos, no dia 21 deste mês, junto com livros de Lupeu Lacerda e Cristhiano Aguiar.