De carona – como costuma acontecer com sucessos televisivos – na boa recepção no Brasil da série Orange is the new black (O laranja é o novo preto, em tradução livre), exclusiva do site Netflix, a editora Intrínseca publica agora o livro que inspirou o programa, com o mesmo nome. A obra, escrita por Piper Kerman, foi publicada para atrair os espectadores ansiosos pela segunda temporada da atração, que fica disponível para o público em todo o mundo sexta (6/6).
No livro, acompanha-se a trajetória de Piper um pouco como na série: adulta, com vida e relacionamento estável com o escritor Larry, ela se vê em meio a um processo criminal que envolve o começo de sua juventude. Na época, estava encantada por seu relacionamento com Nora (no seriado, chamada de Alex), repleto de viagens e luxos, e chegou a ajudar em uma ocasião a transportar dinheiro gerado pelo tráfico internacional de drogas. Para cumprir menos tempo de pena, admite a culpa e é condenada, depois de uma espera de cinco anos, a se apresentar para passar 13 meses em um presídio.
A série mostra Piper a partir do momento em que parte para a prisão, com alusões a esse passado que volta – em mais de uma maneira – para atormentá-la. O relato escrito da autora é bem mais sóbrio que a adaptação televisiva, ainda que revele com cuidado, também, a difícil vida dos presídios e as fascinantes colegas da autora.
Claro que o discurso da necessidade de se rever o cotidiano dos presídios está melhor colocado no livro. Orange is the new blacktraz dados (lembra, por exemplo, que um dos principais problemas dos Estados Unidos é que a sua população carcerária é a maior do mundo) junto a experiência da autora. Na série, o espectador interpreta essa crítica a partir dos guardas corruptos, da regras surreais e da burocracia gritante das prisões americanas.
As diferenças, portanto, já começam aí. Lendo o livro, o que logo se nota é que a Piper da série é em grande parte inventada. Sim, a história do crime na juventude e da ida à cadeia, assim como alguns personagens, é baseada nela, mas a roteirista Jenji Kohan (Weeds) toma várias liberdades para tornar o enredo mais interessante (e longo, até). Um dos fato que já aconteceu na primeira temporada, o reencontro com Alex, a sua antiga namorada, é uma oportunidade para Piper perdoá-la até por tê-la denunciado pela participação no tráfico. Na série, a reconciliação, até aqui, levou as duas a ensaiarem o retorno ao velho romance – na história real, as duas apenas se desculpam.
O romance com o seu noivo, Larry, também tem mais nuances melodramáticas na adaptação. Piper conta a história do seu relacionamento e o apoio incondicional do companheiro ao longo dos meses no livro. Revela que ele foi o seu único namorado além da vida – antes só havia tido relacionamentos com mulheres – e que a amizade entre os dois se estendeu por um bom tempo antes de virar amor. Larry, na obra, também não é o jornalista inseguro, que sofre de ciúmes e discute várias vezes com a noiva, como acontece na série.
Os personagens secundários da trama também são bem construídos no livro, mas é fácil notar que a seleção de elenco de Jenji foi certeira. Piper, no programa televisivo, se torna o ponto de partida para olhar o universo cruel e revelador do sistema carcerário – o roteiro e a direção ressaltam (e criam) os momentos cômicos, mais discretos no livro.
Não se pode esperar as reviravoltas todas da série, mas a obra de Piper tem o mérito de ser mais séria e mais confessional sobre a vivência no presídio – vale para quem se interessou mais pelo tema do que pelo impacto da história. Uma das curiosidades do público é para ver como o seriado manterá sua trama, já que uma terceira temporada também já foi confirmada. Boa parte do enredo dos próximos episódios já é completamente criado (ainda que usando velhos personagens). A espera de Piper pela liberdade tem outra versão interessante, agora impressa, para aqueles que quiserem mais do que os episódios lançados nesta sexta (6/6).
Leia um trecho do volume aqui.