Criadoras do Leia Mulheres falam sobre o crescimento do projeto

No Recife, os encontros são coordenados pelas jornalistas e críticas Carol Almeida e Priscilla Campos
Rodolfo Viana/Folhapress
Publicado em 13/10/2015 às 15:44
No Recife, os encontros são coordenados pelas jornalistas e críticas Carol Almeida e Priscilla Campos Foto: Bienal Internacional do Livro de Pernambuco/Divulgação


Juliana Leuenroth e Juliana Gomes se conheceram há sete anos, quando trabalhavam na Livraria da Vila. Tempos depois, Leuenroth apresentou a Gomes uma amiga, Michelle Henriques, coautora do blog As Bastardas. As três tinham três coisas em comum: gostavam de literatura, eram feministas e, em contraste a isso, suas bibliotecas pessoais tinham majoritariamente livros escritos por homens.

A percepção deste cenário foi o estopim para a criação do projeto Leia Mulheres, em março deste ano. Trata-se de uma espécie de clube do livro que busca estimular a apreciação de textos literários de escritoras.

"Continuamos a ler homens, mas precisamos incentivar a produção, a publicação e a divulgação de livros escritos por mulheres também", diz Gomes. "Assim como também a formação de críticas literárias, jornalistas culturais e curadoras de projetos sociais que utilizem a literatura como fio condutor do início de uma mudança."

Nesses sete meses de existência, o Leia Mulheres já realizou sete encontros em São Paulo e outros seis no Rio de Janeiro. Em cada um, cerca de 20 pessoas (inclusive homens) se acomodam nos fundos de uma livraria e debatem os títulos lidos, que vão de clássicos como Frankenstein, de Mary Shelley, a contemporâneos como A Amiga Genial, de Elena Ferrante.

Recentemente, o projeto começou a se expandir para outras praças. "Estamos em dez cidades e, até o final do ano, devemos estar em mais cinco", afirma Gomes. Apenas em outubro ocorrem oito encontros nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Curitiba, Brasília, Recife, São Luís e Itapetininga. O calendário está disponível no site do projeto De fato, a gestão de Werneck trouxe mais mulheres à Flip. Nas duas últimas edições, o percentual de participação feminina na festa foi de 21,1%; nos três anos anteriores, foi de 17,8%, em média.

"Não está no nível que a gente gostaria, mas há um aumento", diz Werneck. "E estamos aumentando gradativamente."

Este aumento pode indicar um futuro promissor. O presente, contudo, não é satisfatório. "Ainda existe preconceito (contra mulheres)", afirma Leuenroth. "Queremos igualdade de oportunidades e diversidade de olhares. Queremos evidenciar as diferenças que existem entre homens e mulheres - diferenças nas escolhas editoriais, em como os livros são trabalhados na editora e até mesmo em como muitas mulheres têm seus livros rejeitados para publicação."

Um dos exemplos mais significativos de machismo no meio literário é o caso da escritora norte-americana Catherine Nichols. Em abril de 2015, cansada de ser rejeitada por agentes literários, Nichols resolveu enviar o manuscrito de seu livro sob o pseudônimo de George. Ao usar um nome masculino, conseguiu 8,5 vezes mais respostas positivas. "Meu romance não era o problema", disse Nichols, em artigo publicado no site Jezebel. "O problema era eu, Catherine."

Para Nichols, o nome fez toda a diferença; para as idealizadoras do Leia Mulheres, não deveria fazer diferença alguma. No ano em que uma escritora ganhou o Nobel de Literatura - Svetlana Alexievich foi a 14ª entre os 108 laureados desde 1901-, elas querem que o texto seja apreciado sem distinção de gênero.

"Ficamos felizes quando uma mulher ganha um prêmio como o Nobel ou o Jabuti", diz Gomes. "Mas o que queremos é que isso não seja motivo de comemoração, que seja apenas pelo texto."

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