Jovens músicos prestigiam o legado de Milton Nascimento

Coletânea Mil Tom, a ser lançada em junho, reúne 30 releituras de canções imortalizadas por Bituca
Karoli Pacheco
Publicado em 19/04/2015 às 16:52
Coletânea Mil Tom, a ser lançada em junho, reúne 30 releituras de canções imortalizadas por Bituca Foto: Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem


As cinco décadas de música do cantor e compositor Milton Nascimento renderiam, no bom linguajar recifense, a maior homenagem em linha reta da América Latina. Caxangá, canção de Bituca imortalizada na voz da pimentinha Elis Regina nos anos 1970, é uma das 30 canções que compõem o álbum duplo e coletânea Mil Tom, produzido pela Scream & Yell. A música homônima da avenida mais satirizada da capital pernambucana será gravada pela Orquestra Contemporânea de Olinda (uma das três bandas conterrâneas a participar da coletânea, ao lado de Tibério Azul e Bruno Souto). Reverenciando a música do carioca, 32 artistas da nova cena musical brasileira participam do projeto independente, que deve ser lançado em junho para download e streaming gratuitos.

Ao convidarem a OCO para fazer parte da homenagem, o vocalista Tiné logo pensou nos versos “lado A” presentes em Bola de meia, bola de gude, mas acabou garimpando um pouco mais na discografia de Bituca, indo atrás de uma canção que casasse com o som do grupo. “Saímos procurando algumas músicas junto com Juliano (Holanda, guitarrista), quando chegamos à Caxangá, que vimos que tem bastante a cara da Orquestra. Ela é atual, fala para o tempo no qual a gente está vivendo; e, ao mesmo tempo, é o nome de uma avenida daqui do Recife”, justifica. Quando assistiram o vídeo de Elis interpretando a canção, bateram o martelo: “Quando a ouvi, fiquei louco e me emocionou. Milton é um dos maiores compositores do Brasil e tudo que ele faz é muito sincero, tem muita verdade”.

O produtor mineiro Pedro Ferreira, 23 anos, fez a curadoria das musicalidades, Brasil afora, a partir de um levantamento através das mídias sociais, discos, material veiculado na imprensa, entre outras informações dispostas na rede. “A ideia é perpetuar um legado importantíssimo. Milton é um dos principais artistas brasileiros, de todos os tempos. O processo foi muito semelhante ao Re-Trato. Convidei músicos que possuem influências do Milton ou o respeitam de alguma maneira”, conta, tendo como referência a coletânea em homenagem ao Los Hermanos também produzida por ele e lançada no site Musicoteca, em 2012.

A carioca Banda Tereza canta Maria Maria, o paraense Felipe cordeiro suínga os versos de Cravo e canela e o rapper Rashid dá o tom da batida em Tudo que você podia ser. “Como é um projeto sem fins lucrativos, sem venda física, apenas distribuição online gratuita, não precisa de autorização de direitos das músicas. É independente mesmo. Mas, até por questão de respeito ao homenageado, já enviei um e-mail com o release da homenagem”, informa o produtor. Pedro Ferreira lembra que A Banda Mais Bonita da Cidade, Pélico & Bárbara Eugênia (agora em dueto, repetindo o feito da música Roupa suja, no último disco dela) e Tibério Azul são os artistas reincidentes no projeto-homenagem (participaram da coletânea Re-Trato). 

“Dentro do universo de Milton, que é bem vasto, a ideia era trazer uma música que tenha afinidade com o trabalho que venho realizando. Fui catando e dei de cara com a Canção amiga, que eu nem conhecia. Ela começa com um poema de Carlos Drummond de Andrade e tem tudo a ver com o trabalho que me proponho”, conta o cantor Tibério Azul. Passou pela cabeça dele, logo ao ser convidado, interpretar a canção Bailes da vida – cujos versos inspira o codinome do seu disco Bandarra. “Bandarra ou o caminho que vai dar no sol”, diz. “Eu já tenho essa influência declarada”, admite.

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