Emboladores foram pioneiros na ocupação de espaços públicos como palco de apresentações

Castanha, da dupla premiada Caju e Castanha, que fez história no Brasil, fala sobre o início de sua trajetória no transporte coletivo do Recife
Alef Pontes
Publicado em 10/05/2015 às 5:25
Castanha, da dupla premiada Caju e Castanha, que fez história no Brasil, fala sobre o início de sua trajetória no transporte coletivo do Recife Foto: Divulgação


Se o violinista Jessé de Paula se tornou inspiração para uma nova geração de músicos que tomam conta dos transportes coletivos, foram os emboladores e repentistas que abriram os caminhos para a atividade. 

Ocupando praças, parques, feiras e, claro, ônibus e trens, os mestre da arte do coco de embolada, munidos de seu pandeiro e rimas, já chamavam atenção por sua desenvoltura. Umas das pioneiras e mais conhecidas neste ramo é a dupla Caju e Castanha, que, seguindo os passos de Manezinho Araújo, iniciou sua trajetória aqui no Recife, e já comemora seus 40 anos de canto e poesia embolada.

“Na época que começamos, a gente cantava nas praças, mas tinham as carrocinhas (fiscalização da prefeitura). Então, partimos para os ônibus. E foi isso que ajudou a alavancar nossa carreira, porque as pessoas nos reconheciam dos veículos e isso fez com que a dupla ficasse conhecida até hoje”, conta o músico Castanha, que iniciou a carreira acompanhado do irmão, o primeiro Caju da dupla – ele chamava-se Albertino da Silva e morreu em 2001.

Entre as linhas que percorriam, o embolador lembra dos ônibus que tinham diversos bairros do Recife como destino: Bomba do Hemetério, Encruzilhada e Água Fria... E também Moreno e Paulista. “Descíamos de um já para entrar no outro, e assim faturávamos nosso dinheirinho”, conta.

A importância desses tempos é tanta que a dupla – retomada depois com um sobrinho de Castanha, o Cajuzinho, assumindo o lugar de Caju – pretende celebrar as quatro décadas com a gravação de um DVD, ainda este ano, nas ruas do Recife. “Por mais que a gente tenha status hoje, tudo isso fez parte da nossa história. A rua foi o meu palco: o palco da humildade. O artista de rua, que trabalha nos coletivos, pode dizer que é veterano, porque ela ensina tudo a gente”, afirma o músico que ajudou a popularizar o ritmo, e já ganhou um Prêmio da Música Brasileira, além de oito indicações ao Grammy Latino, com uma vitória.

Mas ele também adverte: não é todo mundo que encara o desafio, é preciso ter sangue frio pra entrar no ônibus. “A gente escutou muita piada de gente mau humorada. Às vezes, um passageiro não gostava e queria nos colocar pra fora. Não brigávamos, mas também não descíamos”, relembra, com bom humor. 

Nascido no município de João Alfredo, no Agreste do Estado, o músico Ivan Embolador, de 40 anos e 23 de atividade musical, também segue no batente da embolada nos coletivos. Ele conta que seu início foi nas feiras livres do interior, mas que logo quis viajar, se apresentando nos ônibus.

E garante que, com o ofício, consegue sustentar sua família: “Como artista de rua, eu seguro minha família, tenho minha casa e sempre ajudo as pessoas que chegam até mim. O pão que eu ganho dentro dos metrôs, ônibus, praias e praças, se reproduz com a ajuda ao próximo”.

O horário é corrido, não existe folga nem feriado. “Eu quero dizer pra todos os meus amigos que também trabalham no metrô, para termos força e continuar o nosso trabalho. Pedindo à Deus todos os dias para que a valorização da nossa cultura melhore um pouco mais”, finaliza Ivan.

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