Lobão diz que o panorama musical brasileiro encaretou e piorou muito desde o ano 2000

Músico, e também escritor, faz show no Recife e autografa livro em que chama Dilma de "torturadora" e Roberto Carlos, de "múmia deprimida"
Bruno Albertim
Publicado em 22/07/2015 às 5:21
Músico, e também escritor, faz show no Recife e autografa livro em que chama Dilma de "torturadora" e Roberto Carlos, de "múmia deprimida" Foto: Jo O Puig/Divulgação


 

Mais que na música, o Lobão de quase 60 anos de idade - João Luiz Woerdenbag Filho nasceu como filho de um mecânico e uma professora de inglês no reluzente Rio de Janeiro de outubro de 1957 - tem na opinião beligerante, articulada, pirotécnica até, a matéria-prima de seu espetáculo permanente. Hoje, no Recife, portanto, realiza dois shows. Antes do recital acústico, voz e violão, “um luau indoor, com músicas de todas as minhas fases e as novas também”, do teatro do Shopping RioMar, o músico e, agora, escritor, autografa seu segundo livro fazendo o que tem feito dele o mais barulhento ator da cena musical brasileira: falar.
Depois de vender 150 mil exemplares de sua autobiografia Lobão - 50 Anos a Mil (Nova Fronteira), ele faz o lançamento local, na livraria Saraiva do mesmo shopping, do Manifesto do Nada na Terra do Nunca, o segundo livro em que, de novo, atira generosamente. O rosário crítico destila artilharia verbal contra o meio artístico e, claro, a política brasileira. Num dos capítulos, os Racionais MCs são chamados de "braço armado do PT"; Noutro, o rei da cardiopata indústria fonográfica brasileira, Roberto Carlos, é classificado como uma “múmia deprimida”. No capítulo mais contundente, ruidosamente intitulado de “Vamos Assassinar a Presidenta da República?”, ela chama Dilma Roussef de “torturadora”.
Antes de vir ao Recife, Lobão, contudo, estava mais econômico na verborragia. Notório inimido dos vícios ancestrais da indústria musical brasileira sintetizados pelo nativelho jabaculê pago a rádios e televisões, ele cehgou a editar e ajudar a lançar novas bandas, como a pernambucana Monbojó, com sua extinta revista Outra Coisa. Hoje, não se anima com o panorama musical brasileiro. “Piorou muito dos anos 2000 pra cá”. A entrevista com o velho lobo mau:

JORNAL DO COMMERCIO – Vi numa entrevista recente você dizendo que tem influência da viola caipira. Como se processa essa influência? Isso tem a ver com o formato desse teu show atual?
LOBÃO –
Na verdade, a maior presença de instrumentos acústicos no disco se deve muito ao apagões diários que sofremos aqui no Sumaré. Fiz três canções na viola caipira que estão no disco. Inclusive, uma delas é a faixa título.


JC – Quem são seus grandes heróis musicais no Brasil hoje?
LOBÃO –
Villa-Lobos, Garoto, João Pernambuco e Canhoto da Paraíba.


JC – Você mantém os termos do seu chamado Manifesto do Nada na Terra do Nunca? O intelectual de esquerda continua à solta patrulhando o pensamento e posturas alheias.
LOBÃO –
Bem, isso é um fato sólido, não é uma opinião.


JC – Sem querer investir em polêmica estéril, mas a pergunta é obrigatória: você pensou mesmo em se mudar para Miami com a vitória da Dilma?
LOBÃO –
Eu não disse que iria pra Miami. Disse que estava sendo ameaçado, que publicaram o endereço da minha casa insuflando as pessoas, a queimar a minha casa. Conclui que se não houvesse uma mudança no governo eu deveria pensar em sair do País, me colocaram na lista negra do PT.


JC – Vários dos teus contemporâneos, como o Cazuza, viraram heróis nacionais celebrados em filmes e musicais de teatro - hoje a grande coqueluche do teatro de maior êxito comercial no Brasil. Viu o musical sobre Cazuza? O que achou? Mais: verbete obrigatório da música - e sobretudo do rock - no Brasil a partir dos anos 1980, e com episódios biográficos que rendem um livro (como já rendeu), você se veria como tema de um musical do gênero?
LOBÃO –
Não suporto musicais.

JC – Você criticou francamente a atuação de Gil como Ministro da Cultura. Agora, o ministério está sob o comando do Juca Ferreira, herdeiro e aliado de primeira hora da gestão Gil no Minc. Como avalia a atual condução do ministério e a gestão da política cultural sob a gestão do PT?
LOBÃO
– O mesmo do mesmo com o (Pablo) Capilé de eminência parda.

JC – Com seu selo, você ajudou a lançar novos nomes da musica brasileira. Como vê o panorama musical atual, com essa onda de novas bandas cariocas, tantas cantoras paulistanas (Tulipa, Tiê, Céu...) e as novas e velhas bandas pernambucanas?

LOBÃO – O panorama é muito ruim e careta. Piorou muito dos anos 2000 pra cá.

JC – Você já disse, várias vezes, que não virou um sujeito de direita; ao contrário, foi a esquerda tradicional brasileira quem fez a guinada. Mas o fato de se posicionar continuamente contra o governo do PT tem aumentado, na tua plateia, sujeitos que, em outros tempos, poderíamos classificar como sendo de direita? Aliás, faz sentido falar entre direita e esquerda atualmente?

LOBÃO – Faz sim, nas o que acontece mesmo é que toda a sociedade se reuniu contra o PT.

JC – Se o PT perdeu o posto, com quem está a reserva da ética na política brasileira hoje?

LOBÃO – Reserva ética na política brasileira? Não sei.

JC – Se veria de volta a uma grande gravadora? Por que recorrer ao crowdfunding agora? Quem você imagina que se sensiblize para a campanha de financiamento?

LOBÃO – Eu tenho uma gravadora e como um pioneiro no setor tenho obrigação de experimentar novos formatos. Negócios criativos e lucrativa são bem vindos com qualquer tipo de empreendedor . Até mesmo um gravadora major se formarem um bom staff de executivos com mentalidade mais ousada e maior conhecimento musical. Sou um artista livre. um cidadão livre.e um empreendedor interessado.

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