Naná começou ontem a série de ensaios para a tradicional abertura do Carnaval do Recife, que reúne na sexta-feira, 5 de fevereiro, 500 batuqueiros de diferentes nações de baque virado para saudar a ancestralidade nagô que rege a festa de Momo. O primeiro encontro foi na sede do Maracatu Estrela Dalva, na Joana Bezerra; o próximo será amanhã, às 18h, no Pátio de São Pedro. Serão 17, ao todo, passando pelas 11 comunidades e, sempre às sextas-feiras, na Rua da Moeda, Bairro do Recife. Nos acertos, deve receber a ajuda dos mestres dos maracatus. “Eles se ofereceram para me ajudar”, conta. “Mas estarei em todos os ensaios”, garante.
Neste ano, com uma novidade: além dos maracatus, Naná leva para os holofotes da grande festa os caboclinhos. Os três grupos, Tupy, Kapinawá e União Sete Flexas de Goiana, vencedores de 2015 do concurso de agremiações realizados pela Prefeitura, abrilhantarão a celebração sincrética e percussiva.
“Quero que os caboclinhos sejam vistos. Trouxe eles para a abertura do Carnaval para dar o espaço que merecem”, conta o músico, que convidou para a abertura, ainda, o cantor Lenine e a cantora Sara Tavares, de Cabo Verde, na África. A bailarina Bella Maia também faz uma participação especial.
À CURA
Em setembro do ano passado, Naná Vasconcelos descobriu que está com um câncer no pulmão – na mesma semana, recebeu a informação de que seria Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Desde então, voltou-se para o tratamento e ainda mais para dentro de si e para a sua espiritualidade. Entre as sessões de medicamento, Naná também mergulha em retiros espirituais e transformou a música em medicação. “Tocar faz parte da cura”, garante o artista, envolto de carinho e fé daqueles tantos mundos, povos e crenças com os quais ele convive.
Abatido? Jamais. Sorridente, brincalhão e otimista, o percussionista pernambucano tem sua criatividade ainda mais aflorada, cheio de planos para o novo ano, incluindo a gravação de um disco, já batizado: “Vai se chamar o Budista Afrobudista”, antecipa. Naná quer que o álbum seja gravado por uma orquestra, com arranjos de Egberto Gismonti – “Ele é a única pessoa que vai conseguir escrever o que eu penso. É único que entende a minha cabeça”.
O respiro de Naná é a música e a força dele deve ser sua cura. Respira, Naná!