Em O Demônio do Meio-Dia, o escritor Andrew Solomon traça uma anatomia da depressão: “É como sentir sua roupa lentamente se transformando em madeira, uma rigidez nos cotovelos e joelhos progredindo para um terrível peso e uma isolante imobilidade que o atrofiará e, dentro de algum tempo, o destruirá”, descreve ele sobre a doença que sofreu na própria pele.
Os curitibanos da Concreto Morto não tratam exatamente (ou somente) sobre este grande mal do século, mas a sensação de aprisionamento e claustrofobia de suas músicas possuem relação análoga. Particularmente em seu novo EP, intituladoA Necessidade de Produzir Sempre Foi Antagonista do Desejo de Criar, que é acompanhado por um encarte/zine com ensaio, desenhos e poema (veja galeria).
O impulso poético do disco vem de uma ferida que é ao mesmo tempo pessoal e social: “Ah, a gente é um bando de anticapitalista que percebeu que, mesmo trabalhando com o que gosta, a gente não se realiza. O hobby vira obrigação”, comenta modestamente o vocalista Felipe Augusto. “Esse EP, mesmo que sem querer, tem muita influência do CrimethInc, um coletivo anarquista famoso. O Concreto acaba sendo sem querer uma banda sobre frustrações e o trabalho é uma das que mais marca a gente”, explica.