Paal Nilssen-Love: o encontro da improvisação livre com o samba em 'Ana'

Aclamado baterista anglo-norueguês lança o disco 'Ana', no qual comanda a big band Large Unit, com dois músicos brasileiros
GGabriel Albuquerque
Publicado em 15/06/2016 às 9:04
Aclamado baterista anglo-norueguês lança o disco 'Ana', no qual comanda a big band Large Unit, com dois músicos brasileiros Foto: Foto: Divulgação


O baterista anglo-norueguês Paal Nilssen-Love é um dos principais nomes da improvisão contemporânea. Além de participar de dezenas de projetos, como o Atomic e The Thing e Fire Room, já gravou centenas de álbuns com músicos aclamados como Peter Brötzmann, Akira Sakata e Mats Gustaafson. 

Nilssen-Love também desenvolve pesquisas musicais ao redor do mundo e tem uma relação especial com o Brasil.Em 2014, fez uma turnê pelo País e gravou dois discos por aqui: Scarcity, com Arto Lindsay, e Bota Fogo, com os cariocas Eduardo Manso e Felipe Zenícola (da banda Chinese Cookie Poets) e o pernambucano Arthur Lacerda (do Dedo). Ana, seu novo álbum sob o comando da big band Large Unit, é um movimento exploratório a partir do samba e influências de música nordestina. Desta vez ele conta com a presença de outros dois brasileiros: os percussionistas Celio de Carvalho (congas, bongos, tamborim, pandeiro, berimbau, caxixi, alfaia) e Paulinho Bicolor (cuíca, triângulo e tamborim).

Por email, NIlssen-Love fala sobre seu novo trabalho e o cruzamento entre samba e improviso.

<a href="http://pnlrecords.bandcamp.com/album/ana" mce_href="http://pnlrecords.bandcamp.com/album/ana">Ana by Large Unit</a>

JORNAL DO COMMERCIO – O Large Unit é quase uma orquestra de improvisação. Em Ana, são 14 músicos tocando juntos. Como se mantém a coesão musical com tanta gente?

PAAL NILSSEN–LOVE – É uma banda grande, sim. Mas eu sempre me asseguro de ter algum tipo de estrutura dentro das partes improvisadas e também sou muito consciente de quem está na banda e de como usar e trazer suas qualidades individuais. Quero que cada indivíduo seja ouvido para que todos nós (e o público) possamos sentir o poder da banda por completo. Todos os membros se conhecem bem e trabalham juntos de uma forma muito democrática. Eu quero que as pessoas toquem com e contra os outros, e às vezes criar um tornado de som que é quase fora de controle.

JC – Em Rio Fun (2015), também com o Large Unit, são incorporados alguns elementos da música brasileira, em especial da Bahia. Em Ana você conta com a participação de Paulinho Bicolor e Celio de Carvalho, dois sambistas. Você vê ligação entre o samba e a improvisação livre?

PAAL – Quando improviso, eu em penso em forma; quando eu ouço samba, eu sinto a forma sendo esticada. Eu sinto que em ambos os estilos você puxa e empurra e há uma energia de alto nível. É sobre empurrar você mesmo e os outros músicos para além dos limites. É algo físico, sobre resistência mesmo. Para mim, improvisação livre, ou melhor, música livre inclui quaisquer estilos e maneiras de tocar. Eu sou influenciado por músicas tão diferentes de tantas partes do mundo e para mim é tudo uma fonte de inspiração. Tudo isso afeta o meu modo de tocar.

Música livre é espontânea e demanda reações rápidas ao que está acontecendo. Nisso eu vejo uma conexão clara com o samba. Você tem que pegar uma frase e desenvolver através dela. Pergunta e resposta. As pessoas terem captados os ritmos da Bahia é ótimo, mas nunca foi intencional de minha parte. Não é como se eu sentasse com um papel e caneta e pensasse: “agora eu vou incluir um ritmo desse ou daquele estilo”. Vem do subinconsciente e acontece naturalmente conforme o fluxo.

<a href="http://pnlrecords.bandcamp.com/album/rio-fun-ep" mce_href="http://pnlrecords.bandcamp.com/album/rio-fun-ep">Rio Fun (EP) by Large Unit</a>

JC – Você é um grande fã de música brasileira. Como foi seu primeiro contato e o que mais te atrai nos artistas daqui?

PAAL – Não é frequente a sensação de ouvir algo que você nunca ouviu antes. Ritmos, sons, combinações de elementos, orquestração, vocais etc. Foi esse o caso quando ouvi Luiz Gonzaga pela primeira vez. Daí em diante eu tentei achar sua música em lojas de discos de todo o mundo, mas levou tempo. Lentamente eu descobri outros artistas como Jair Rodrigues, Elza Soares, Gal Costa, Caetano Veloso e então Trio Nordestino e também a Bandinha de Pífano. E não menos importante: Milton Nascimento, Gal Costa, Jorge Ben e assim vai. Todos eles me impactaram e eu me vi ouvindo música que nunca tinha ouvido antes. Uma energia esmagadora de sons e ritmos. Uma experiência absolutamente maravilhosa!

Toda vez que vou ao Brasil, ao visitar lojas de discos ou sair com meus amigos no Rio de Janeiro, eu percebo que há muito para ser descoberto. É infinito. E a maioria das pessoas que conheço, músicos ou não, sabe muito sobre sua própria música. Eles amam a sua música. Aprendendo sobre música brasileira, eu percebo o quão rica ela é. Vejo o quanto aconteceu entre o fim dos anos 60 e início dos 70 e não há nenhum outro país com tanta diversidade e amadurecimento em tão pouco tempo. Eu também tenho que citar o álbum Krishnanda, de Pedro Santos, como um dos discos brasileiros mais importantes para mim. É como um caldeirão de todas as tradições, instrumentos, sons e ritmos.

JC – Quais são suas expectativas para o futuro deste encontro entre samba e improvisação? Você pretende continuar com esta fusão no Large Unit, com Paulinho e Celio?

PAAL – Ter Celio e Paulinho na banda é absolutamente incrível! Eles realmente puxam o resta da banda e levam a música a novos níveis e eu estou extremamente orgulhoso e honrado de tê-los no palco e no estúdio. Já existem planos para concertos na Europa neste verão e estamos lentamente planejando shows no Brasil, para os quais eu estou muito animado. Escreverei mais material com Celio e Paulinho em mente. Estou muito curioso para ver aonde a música vai.

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música experimental Large Unit Paal Nilssen-Love
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