De Janet Jackon a Beyoncé, pop já pautou discussões no Super Bowl

Racismo, sexismo e misoginia foram alguns temas levantados após apresentações de divas
JC Online
Publicado em 07/02/2017 às 11:59
Racismo, sexismo e misoginia foram alguns temas levantados após apresentações de divas Foto: Reprodução


Os shows realizados no intervalo do Super Bowl acontecem desde os anos 1960, mas a dimensão de espetáculo que ostenta atualmente é um fenômeno recente. Se nos anos 1990 astros como Michael Jackson e Diana Ross elevaram a dimensão de pirotecnia e de grandeza dessas apresentações, foi só a partir dos anos 2000 que o evento ganhou impacto em escala global. Desde então, se tornou uma das plataformas mais cobiçadas pelos artistas, já que, só nos EUA, sua audiência gira em torno de 110 milhões de pessoas. 

Por representar um fenômeno muito ligado à cultura estadunidense, por muito tempo o Super Bowl se restringiu apenas à final do campeonato nacional de futebol americano (NFL). A mudança começou em 2004, ano crucial para se entender a dimensão que os shows do intervalo adquiriram, quando evento ocorreu em Houston, no Texas, mesma cidade da final em 2017, e contou com nomes como Justin Timberlake e Janet Jackson, que protagonizaram uma cena icônica: ao final da apresentação, Timberlake arrancou parte da roupa de Janet, revelando o seio da cantora.

Apesar de ter durado apenas uma fração de segundo, a cena teve repercussão sem precedentes: A CBS, rede de televisão que transmitiu o evento, pagou multa de 500 mil dólares. Timberlake se desculpou e não sofreu maiores consequências. Janet, por outro lado, foi banida das rádios e sua carreira nunca se recuperou. O episódio foi apontado como um exemplo do conservadorismo americano, com elementos de racismo e misoginia. 

O impacto cultural foi tão grande que o incidente entrou no Guinness Book como o mais procurado da internet, naquele ano. Inclusive, foi por não encontrarem as imagens da apresentação de Janet na internet que Jawed Karim, Steve Chen e Chad Hurley decidiram criar um site que agregasse vídeos online. Em fevereiro de 2005, lançaram o Youtube.

Por conta da apresentação de Janet, que contou com performance de Rhythm Nation, que fala sobre injustiças raciais e econômicas, todas as atenções se voltaram para o Super Bowl. O que viria a partir dali? Por precaução, as redes de televisão passaram a exibir as performances com atraso de alguns segundos para prevenir situações similares.

Nos anos seguintes, artistas do rock, como U2, Paul McCartney, Prince e Bruce Springsteen dominaram o evento, que voltou a abrir as portas para o pop em 2012, quando Madonna levou seus maiores sucessos para o centro do estádio, que ganhou as manchetes pelo fato de MIA, uma das convidadas, levantar o dedo do meio para as câmeras.

FORMATION

Uma das justificativas dos organizadores para o caráter puramente de entretenimento do evento é o fato de se tratar de uma atração para as famílias. O debate político, porém, ganhou força ano passado, com Beyoncé, que ao apresentar Formation, canção sobre orgulho da negritude, fez alusão aos Panteras Negras e intensificou o debate sobre a questão racial nos EUA.

Da escolha do figurino à coreografia, a cantora tinha consciência da plataforma que tinha em mãos e a usou para entreter, mas também dar seu recado. Sem tocar nas questões urgentes que marcam os tempos atuais, em especial as relacionadas às políticas de segregação de Donald Trump, a falta de posicionamento de Gaga, diante desse legado de tensões e discussões sociais levantadas durante o Super Bowl, faz questionar: em momentos de ebulição política e de estados de exceção, o artista deve se abster de se posicionar através da plataforma que lhe é dada?

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