Com passagens instrumentais melodiosas, compassos que desconcertavam os DJs e letras inspiradas em textos hindus, o Yes desafiou o rock, mesmo nos momentos de sucesso. A banda que definiu o gênero do rock progressivo entrará para o Hall da Fama do Rock and Roll em 7 de abril e seu cofundador Jon Anderson diz que o Yes tem o mérito de ter permanecido fiel a seus princípios.
"A música não deve ser apenas uma mercadoria. É sobre evoluir como um músico e como um grupo de músicos", disse Anderson à AFP por telefone. "E foi isso que o Yes fez. Permaneceu leal a seus ideais", disse. "É genial quando uma banda se apega a um ideaL", completou.
Liderado pela voz marcante de Anderson, o Yes se inspirou mais na estrutura das sinfonias clássicas do que na do R&B, ao contrário de boa parte do rock.
O grupo, que venceu mais de 50 milhões de álbuns, chegou apenas uma vez ao "número um" da parada de sucessos nos Estados Unidos, em 1983 com Owner of a Lonely Heart, talvez a canção do Yes que mais se aproxime do pop tradicional.
A banda inglesa celebrará em 2018 o aniversário de 50 anos de carreira, após uma série de mudanças em sua formação, que deixaram o Yes irreconhecível em relação a sua formação original.
Rick Wakeman, que foi tecladista do grupo durante muitos anos, não escondeu a irritação com o fato do Yes ter sido indicado ao Hall da Fama do Rock and Roll apenas após a morte de Squire. Mas ele aceitou comparecer à cerimônia em Nova York depois de chegar a um acordo para prestar uma homenagem à viúva do baixista.
Rick Wakeman. Foto: JOHN THYS/AFP/ARQUIVO
"Acredito que Chris estará lá em espírito", disse Anderson, 72 anos, que está em turnê com Wakeman e o ex-guitarrista do Yes.
Anderson incorporou a meditação em sua vida cotidiana e frequentemente fala sobre a natureza e a proteção ao meio ambiente em suas letras, como na canção Don't Kill the Whale de 1978.
Consultado sobre seus rituais, o cantor disse que a meditação não é uma atividade fixa: "Depende de como você enxerga a meditação. Caminhando pelo jardim ou caminhando pela cidade você pode meditar ao ser parte da energia que te cerca".
Anderson revela que pensa muitas vezes por quê ele e não outros tiveram sucesso. Ele acredita que é por sua visão da "energia divina que nos cerca o tempo todo". "Desde as primeiras canções que escrevi no primeiro álbum até agora eu continuo cantando sobre as mesmas coisas", disse.
"As pessoas falam: 'Você é muito espiritual'. E eu digo: 'Não, não, todos somos espirituais, eu apenas gosto de cantar sobre isso'", comenta, com um sorriso.
A ambição do Yes ficou evidente em 1973 com o álbum Tales from Topographic Oceans, que tem quatro canções com quase 20 minutos cada.
Anderson estabeleceu o conceito inspirado por quatro shastras hindus que leu no livro clássico de Paramahansa Yogananda, Autobiografia de um iogue.
Além do Yes, Anderson participou em vários projetos, que incluem música ambiente para meditação, uma pesquisa sobre a música da África Ocidental e um álbum sobre uma lenda nativa americana.
Ao mesmo tempo, Anderson confessa que é fã de La La Land, que assistiu depois de uma recomendação de sua filha.
Seus próximos projetos incluem um musical sobre Rumi, o célebre poeta persa do século XIII. Também pretende continuar explorando o impacto das novas tecnologias na música, da realidade virtual até o "sound surround". "Estou trabalhando em tantas coisas que você ficaria maluco para entender", afirmou, sem conter a risada.
"Estou na casa dos 70 e ainda adoro o que eu faço", conclui.