Foi quando ganhou o prêmio de Artista Revelação no Video Music Brasil da MTV, em 2012, que José Tiago Sabino Pereira entendeu que o Projota vencedor das rinhas de MC paulistas havia entrado de vez em outro mundo. “Já tinha feito tudo o que podia no rap. Ou eu ultrapassava essa fronteira ou diminuía minha carreira até ela se desgastar e isso eu não faria de jeito nenhum. O rap é imenso, mas a minha música não é só rap”, relembrou ele durante entrevista por telefone para o JC.
Sustentando a sentença de que pode dialogar com todo tipo de artista ele lançou no fim de julho A Milenar Arte de Meter o Louco (Universal Music), segundo registro em formato de álbum de uma carreira de mais de 15 anos. Com certeza o de maior potencial para produzir hits, o trabalho tem 12 faixas que brincam com as múltiplas interpretações cabíveis no título. A dualidade entre ser são e louco vem já no encarte, mas sem determinar quem é quem. “A intenção é propor esse questionamento, porque é difícil explicar. Loucura pode não ser necessariamente o que a gente pensa. Às vezes eu me sinto louco e me aceito assim. E tem a correria pra “meter o louco” e fazer as coisas acontecerem”, analisa.
Ainda nesse sentido, a participação luxuosa – e quase um aval entre os apreciadores do gênero–base, de Mano Brown, em Prefácio, faixa de abertura, explica o por quê de “meter o louco” ser uma arte milenar. “Jesus, Martin Luther King, Gandhi, todos esses grandes ‘meteram o louco’ pelas suas causas. Então, essa expressão tem um monte de significados e nenhum ao mesmo tempo”.
Sem dúvida, a letra que mais chama atenção é a autobiográfica Segura Seu BO, confissão da depressão sofrida em 2015. “Foi quando eu me vi obeso/Trancado no quarto, sozinho, depressivo/Transando com 15 mina por semana/Pra ver se assim me sentia mais vivo”. O rapper diz que não chegou a ser diagnosticado, mas acredita que a ausência de vontade de encontrar os amigos e fazer shows foram os sinais mais agudos de algo estava errado, o que ele credita ao excesso de mudanças acontecidas em curto período de tempo. “É complicado lidar com crítica, fama, sucesso”.
A tensão só diminuiu quando começou a compor as inéditas para o DVD ao vivo 3F’s (2016), onde Muleque de Vila acabou ganhando destaque e sendo gravada em versão de estúdio para AMADMOL. “Foi quando eu senti gana, raiva de novo. Porque rap vem da raiva”, contextualiza ele.
Não à toa o amigo Rashid foi escolhido para cantar Segura Seu BO. A ideia de Projota era abarcar, através dos convidados, tanto a geração que o precedeu, quanto a contemporânea – marcada também por Karol Conka, passando pela mais recente, defendida pelo grupo Haikaiss.
Já a parceria com o duo tocantinense Anavitória é a que representa mais explicitamente a falta de pudores em se abrir para o mercado pop. Se é hit radiofônico que Projota quer, ele mostra que o faz bem com Linda. Nela, as garotas de vozes melodiosas cantam o refrão de mais uma composição feita para saudar uma figura feminina – e que sempre geram entre os mais críticos acusações as quais hoje ele não dá mais tanta importância.
Como método de divulgação, Projota tem apostado em videoclipes para todas as músicas. Cinco deles já saíram e até o fim do ano pelo menos mais dois devem estarão disponíveis. “É preciso entender como as coisas funcionam hoje. Não adianta colocar tudo de uma vez, as pessoas não vão ouvir. Quando você bota música por música dá atenção especial a cada uma delas”. O outro lado da escolha, continua, é expor que nem só de música romântica vive um hitmaker.
“O cara que fala que o Projota só canta romance, só toca na TV e no rádio, é porque não ouviu o disco. Quando você faz um videoclipe grande, a galera tem a chance de ver que a gente tá dando atenção pro outro polo do som. Tanto que os vídeos mais visualizados no meu canal no YouTube são Ela Só Quer Paz, que é, sim, uma letra de amor, e Muleque de Vila”.
Sobre o que mais o agrada na nova geração de rimadores brasileiros, ele cita Froid, de Brasília, o mineiro Djonga, o recifense Diomedes Chinaski, cujo trabalho conheceu há pouco, e até o experiente Dom L, que “merece muito mais atenção”, opina.
No encarte de A Milenar Arte de Meter o Louco, Projota o define como mais uma tentativa frustrada de entendimento próprio. Questionado o por quê da frustração, ele é direto. “Escrever música, fazer show, é como ir ao psicólogo. Eu não entendi nada ainda. Mas isso também é positivo porque dá margem pra que eu faça mais”.