Reverbo é vitrine para nova geração da música pernambucana

Dez artistas participam do show hoje no Hermilo Borba Filho
JOSÉ TELES
Publicado em 08/11/2017 às 10:38
Dez artistas participam do show hoje no Hermilo Borba Filho Foto: foto: Leo Motta/JC Imagem


Juliano Holanda, Almério, Isadora Melo, Martins, Marcelo Rangel, Isabela Moraes, Mayra Clara, PC Silva, Vinícius Barros e Jr Black participam hoje, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, da Reverbo, uma mostra coletiva de música, que o grupo pretende que seja a primeira de muitas: “Reverbo é um sonho antigo. Uma necessidade urgente de se unir e trocar informações.

 Um show com momentos solo e parcerias. Músicas novas e músicas antigas. Tudo autoral: “Já vínhamos nos encontrando há bastante tempo. Uns participando dos shows dos outros, compondo junto, desenvolvendo ações conjuntas, mas nunca um show coletivo. A ideia inicial era ter mais gente, fazer com todo mundo, mas seria inviável, então esta deverá haver mais edições”, explica Juliano Holanda. Antes, às 18h, Juliano participa de uma entrevista na TVJC (www.tvjc.com.br e na página do JC no Facebook).

 Músico, compositor e produtor, espécie de maestro de uma geração que despontou nesta década, Juliano Holanda não se arvora a líder do grupo, tampouco o classifica como movimento, sua casa é, como ele mesmo chama, um “bunker” onde intérpretes e músicos que costumam se reunir para trocar ideias e apresentar a suas produções: “Somos, antes de tudo, amigos, mas já existiam conexões antes. Nesse show serão 10 artistas. Mas, já havíamos elencado 60. Todos de alto nível e produzindo na cidade”, diz Juliano.

 Ele e Jr. Black são os decanos da turma, os demais entraram em cena mais recentemente: “A gente começou a trabalhar juntos mais ou menos há três anos, mas não somos exatamente um grupo, acho que é só uma galera que está fazendo canções. As reuniões rolam na casa de Juliano, de Martins, é uma coisa de afinidades e amizade”, diz Isadora Melo, protagonista do musical Dorinha, Meu Amor, dirigido por João Falcão, levada em uma temporada de dois meses no Teatro Arraial.

 Juliano Holanda, Almério, Zé Manoel (que também faz parte da turma), Martins participaram do musical. Assim como Ylana Queiroga, Flaira Ferro, e Isaar. A qualidade é um dos itens da liga que une esta sociedade de capital aberto: “A gente tem uma preocupação de não limitar. E nem quer militar numa missão estética. Talvez por isso não seja um movimento. Está tudo em aberto. O que une todos é o gosto pela canção, pela poesia cantada. Cabe Martins, mas também cabe Juvenil, Petrônio, Sophia Freire, tanta gente que dialoga conosco. E tem um lance importante que é a admiração pelo trabalho do outro. Eu costumo dizer que essa é uma geração que escolheu dizer sim. De forma sincera”, comenta Juliano Holanda.

MOVIMENTO

 Por volta de 2012, outro grupo de músicos, parte deles morando na Zona Oeste do Recife, Barro, Areias, Jardim São Paulo, juntou forças e passou a fazer shows juntos. Nomes como Juvenil Silva, Petrônio, Aninha Martins e Ângelo Souza (Graxa). Antes que a imprensa inventasse um rótulo para o grupo, eles mesmo se batizaram de Cena Beto. Não havia nenhum Beto, e tampouco eles eram uma cena ou movimento, apenas músicos cavando espaços para divulgar sua arte. A Cena Beto chegou a ser atração do Abril pro Rock, com o projeto Orquestra Betodélica.

Juliano Holanda & cia trabalham mineiramente. Quando gravou o álbum de estreia, ele já tinha um currículo bastante recheado, tornara-se figura onipresente nos estúdios pernambucanos. Formado no CPM em violão popular, passou por bandas como a Cobra Norato e Azabumba (com a qual gravou o primeiro disco). Não por acaso seu disco ganhou o título de A Arte de Ser Invisível (lançado pelo selo Núcleo Contemporâneo).

 Mas todos os que participam hoje do Reverbo são unânimes em reafirmar que não integram uma cena ou movimento. São unidos por um elo chamado canção. Não fazem rock, tampouco MPB nos moldes formatados nos anos 60, na era dos festivais. Muito menos estão atrelados à pernambucanidade, embora quase todos tenham nascido no Estado. A exceção é a cantora Mayra Clara, que é do Acre, porém desde criança morando Recife:

 “A gente não tem essa coisa de tocar os ritmos de Pernambuco, mas também tocamos, o que interessa é a canção”, diz Juliano. A música desta “galera” valoriza harmonias, letras, o que a liga à MPB é que se pautam em buscar um equilíbrio entre melodia e poesia que passe por longe do lugar comum, e na contramão que se toca no rádio e na TV. Vigora entre eles uma saudável promiscuidade musical, todo mundo toca e canta com todo mundo, como aconteceu no citado musical Dorinha Meu Amor.

 Isadora Melo, por exemplo, revelação do canto feminino no ano passado, com o disco Vestuário, começou a aparecer para um público maior a partir de participações em shows de amigos, como aconteceu com Zé Manoel, no Santa Isabel. Ela passou a dividir palco com Juliano Holanda em 2013, quando os dois germinaram as ideias sobre o que seria o álbum de estreia da cantora. Juliano estava com ela no palco do citado Santa Isabel, quando Isadora lançou Vestuário, um dos melhores discos de 2016.

 Nascido em Altinho, mas adotado por Caruaru, Almério foi o músico desta turma que voou mais alto, aterrissando com Johnny Hooker e o paulista Liniker na recente edição do Rock in Rio. Atualmente, Almério está circulando entre Caruaru, Recife e São Paulo, esta última cidade tem sido, desde os anos 90, o destino dos músicos pernambucanos. Os integrantes deste grupo (ainda) sem nome não têm o objetivo de emigrar, mas também não descartam uma mudança de ares:

 “João Falcão pretende montar Dorinha Meu Amor no Rio e em São Paulo (o musical volta a ser encenado em 2018 também no Recife na programação do Janeiro de Grandes Espetáculos): “Acho até que João fez aqui um ensaio para a montagem de um espetáculo maior, uma espécie de aquecimento, para sentir como o musical funcionaria”, é o palpite de Juliano Holanda. O musical certamente abrirá uma vitrine bem mais ampla para Isadora Melo, igualmente para Juliano Holanda, provavelmente surgindo convite para outras empreitadas, o que é episódio recorrente em várias gerações musicais nordestinas.

 Voltando no tempo, em 1967, a música do Recife vivia uma época de efervescência, que arrefeceu em 1968, quando dois dos músicos mais atuantes e talentosos Geraldo Azevedo e Naná Vasconcelos (além de Edir Souza, hoje conhecido como Edyr Star), mudaram-se para o Rio. Já um nome nacional, inclusive com direito a um disco tributo, precoce, para um artista com apenas dois CDs lançados, o cantor e elogiado compositor Zé Manoel também faz parte da turma.

 Mesmo morando em São Paulo continuam as parcerias e participações. Juliano Holanda lembra que ele já trabalhou no Rio, compondo trilha para a série global Amortemo, em 2015: “Passei seis meses, lá e cá. E viajo com frequência, toquei há pouco tempo com Almério em São Paulo. Hoje em dia é bem mais fácil essa coisa ir e voltar, mas a principio não tenho esta ideia de morar fora daqui”. Juliano também enfatiza que não existem regras nem normas preconcebidas dentro do grupo: “Não teve um marco inicial e não pretende ter fim. É mais uma ideia de fluxo. De abraço mesmo. A gente quer conhecer gente, discutir composição, arte, essas coisas”.

 REVERBO

 O termo Reverbo vem de verbo, de verbalizar: “ Somos artistas que trabalham com a poesia. Temos um cuidado com as letras. No grupo todo mundo faz letra e música”, explica Juliano Holanda. Dependendo de quantas forem as próximas edições, periga o grupo ser rotulado de Movimento Reverbo. E há material e gente de sobra para que o projeto se prolongue, daí a importância desta apresentação inaugural.

 O repertório terá canções já gravadas, e algumas inéditas. Os dez artistas cantam e se acompanham. O show é o marco zero do grupo sem nome, mas com uma estética em comum, um caminho sonoro e poético que em si já é É uma marca identificável no trabalho dos músicos. Juliano Holanda comenta sobre o primeiro Reverbo: “É como um fincar de bandeira. Pra trazer visibilidade e também um teste pra nós”.

 

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