O CD e DVD 30 Rouche, ou 30 anos de Almir Rouche, que o cantor lança hoje, a partir das 19h30, no segundo piso do Paço Alfândega, foi um trabalho que levou tempo para ser concluído. A primeira gravação aconteceu na Praça do Arsenal, em 12 de fevereiro do ano passado, com uma parte feita em estúdio. Teve gravação em maio no Manhattan, complementada com sessões em estúdio. Por fim, em junho, teve imagens captadas de um show na Sala de Reboco:
“Mostro toda as faces do meu trabalho, o frevo, a música junina e a romântica”, explica Almir Rouche. Ele revela que toda renda com a venda de CDs e DVDs serão revertidas para a Fundação Afeto e Trabalho, na Encruzilhada, que se dedica a crianças autistas, com resultados que já foram reconhecido por especialistas estrangeiros.
Almir Rouche não alimenta ilusões de que este trabalho vá tocar no rádio (com as exceções de praxe), mas já integra a ala dos que acreditam no poder do streaming: “A rádio não toca, mas não tem problema, as plataformas digitais viralizam. Pouco tempo atrás, Marco Antonio, que é também conhecido como Negão Abençoado, disse que tinha uma música pra mim, É Um bicho Comendo Outro. Gravei, não aconteceu, depois começou a tocar, e agora está estourada”. Entrando na fila do sucesso, ele cita um novo frevo de J.Michiles, A Máscara Caiu:
“Gravei também de Michiles o maracatu Nação Nagô. Sou o intérprete que mais gravou músicas dele, acho que umas 70. Todo disco meu tem composições de Michiles, já cheguei a botar quatro num único lançamento. O bom dele é que já traz a música toda pronta, inclusive a introdução”. Mas ressalta uma gravação do Hino do Recife (Nelson Ferreira e Manuel Aarão), uma música que toca na Câmara de Vereadores, em solenidades da prefeitura, mas que poucos recifenses conhecem: “Quis fazer como foi feito com o Hino de Pernambuco, que teve várias versões, em ritmos diferentes”.
PINGUIM
Almir Rouche conta três décadas de carreira a partir de sua entrada na Banda do Pinguim, surgida em 1987, com a seguinte formação: Almir Rouche (voz), Paulinho Pimpão (guitarra), Chacal (baixo), Marcos César (teclado), Gordinho (bateria) e Nikima (percussão). A entrada em cena do grupo coincidiu com o explosão da axé music, que invadiu não apenas as emissoras de rádio e TV, mas o país, com os carnavais fora de época. E Pernambuco teve o único Carnaval rachado do Brasil. Ou se brincava em Olinda ou em Boa Viagem, onde acontecia o Recifolia, animado por artistas da axé, na semana pré-carnavalesca. Os artistas locais que animaram a folia na Avenida Boa Viagem foram alvos de crítica, de acusações de abaianamento:
“Houve um início de discriminação contra mim, mas por quem nem via a gente na avenida. Levava 80 bailarinos, que saíam na frente do nosso trio. Em cima tinha quatro bailarinos do Balé Popular do Recife. Tudo bem, eu estava num evento baiano, mas fazendo música pernambucana. Várias vezes briguei com Bel do Chiclete com Banana, quando ele queria sair quando era a vez da gente. Fizemos uma música tão bem amarrada que passamos a tocar em outras capitais. Enfim, a axé passou e eu continuo cantando a cultura pernambucana”, defende-se Rouche, que, depois da Pinguim, montou outros grupos para animar as folias. Em Natal, animou durante dez anos o CarNatal, com o Bloco Galo do Sol.
Almir Rouche faz parte de um grupo de artistas que se tornaram conhecidos animadores de Carnaval (embora também façam São João). Neste período, ele está com a agenda lotada. Toca do Sertão ao cais. Fará 30 apresentações em 2018:
“Eu procuro ocupar os espaços que me dão. O que está faltando ao Carnaval do Recife é que a iniciativa privada entre na festa. Fica todo mundo esperando pelo poder público. Sou um dos poucos que conseguem patrocínio privado. Mas, no máximo, 5% dos empresários pernambucanos acreditam em investir no Carnaval. Fazem uma festa e trazem, por exemplo, Safadão, nada contra, cito ele como poderia citar outro, o que o cara ganha vai levar, vai aplicar na terra dele. Tem prévia carnavalesca que só tem artista de fora”, comenta Rouche, cujos 30 anos de carreira receberão ainda uma biografia, assinada pelo jornalista Fernando Fagundes.