Porto Musical faz do Recife epicentro da música independente por três dias

Conferência colocou em contato alguns dos principais agentes do mercado nacional
Bruno Albertim
Publicado em 03/02/2018 às 15:57
Conferência colocou em contato alguns dos principais agentes do mercado nacional Foto: Divulgação


 "Depois que a gente lança o disco, é uma alegria, e também um desafio de saber o que vai fazer com ele", diz Sofia Freire, 21 anos, jovem revelação da música pernambucana com seu elogiado e recém lançado Romã. "Não adianta fazer um crowdfunding sem ter o planejamento certo do orçamento até para os custos de entrega dos discos", comentava o músico Juvenil Silva, em campanha para lançamento de seu novo disco. "As gravadoras podem ser bons parceiros. Mas existe mercado saudável e até melhor fora do chamado mainstream", sintetiza o produtor Duda Vieira, empresário de nomes como Otto e Pepeu Gomes. De quinta ao último sábado, frases assim tomaram conta dos arredores do Praça do Arsenal da Marinha, no Recife Antigo.

Blocos de frevo circulando por todo o bairro antigo e ali, o Recife foi, nesses dias, o epicentro do mercado da música independente do Brasil. Idealizado e realizado pela produtora recifense Melina Hickson, a oitava edição do Porto Musical reuniu dezenas de artistas, produtores e curadores divididos entre painéis, seminários, oficinas e shows com o grande objetivo de ampliar o alcance da música contemporânea brasileira.

Representante do principal patrocinador do evento, Fernanda Paiva, gerente de marketing institucional da empresa Natura, aproveitou justamente a convenção para lançar a nova plataforma de apoio a artistas brasileiros. Com treze anos de atuação e cerca de 300 projetos patrocinados, a empresa de cosméticos ocupa hoje o vácuo deixado pelas grandes gravadoras e é o principal fomentador de novos artistas no País.

"Depois desses anos todos, percebemos agora que não basta apenas lançar os discos e fazer um ou dois shows de lançamento. Antes, as gravadoras faziam de alguma forma o gerenciamento de carreiras. Vamos retomar as relações com todos os artistas patrocinados até agora para acompanhá-los na circulação por festivais, orientando na melhor forma de distribuição digital. Às vezes, o artista tem o disco mas não sabe exatamente como tocar um determinado festival", diz ela, sobre o fato de a empresa manter agora uma casa própria para shows em São Paulo e patrocinar 12 grandes eventos de música no País. "O Porto Musical pra gente sempre foi uma referência de inovação de negócios da música, essa é uma característica da cidade , questionadora, criativa, achamos que seria apropriado lançar isso no Porto Musical".

"Além das discussões, eu tive a oportunidade de ver artistas que não veríamos com tanta facilidade, há vários músicos aqui com grande potencial para o mercado nacional", dizia o cearense Márcio Caetano, um dos consultores de música do Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, e diretor do festival Maloka, especialmente impressionado com as apresentações do cantor Almério e do pianista Amaro Freitas. A grade contou ainda com apresentações de nomes como Barro, Júnior Black, Renata Rosa, Isadora Melo, Tássia Reis e Eddie. Entre os participantes, estavam nomes como os programadores como Edson Natale, do Itaú Cultural, e Christine Semba, do feira internacional de música Womex.

2020

Finalizada esta edição, a produtora Melina Hickson cai em campo para tentar viabilizar a próxima, para daqui a dois anos. Ano passado, por falta de patrocínios, o Porto Musical não aconteceu. "Essa volta só foi possível por termos entrado no Edital do Natura Musical. Tivemos um tempo muito curto, foram quatro meses para levantar o evento inteiro", diz ela, contabilizado um público recorde de 400 inscritos, em 42 atividades, como três grandes seminários e painéis para discutir distribuição de discos, promoção das redes sociais, auto-sustentabilidade do mercado pernambucano, vitalidade da cena brega e a economia das pequenas casas de shows e eventos. Em algumas oficinas, discutia-se os mecanismos da lei estadual de fomento à música e estratégias para financiamento coletivo. 

"Fiz questão de entregar um conteúdo aprofundado de temas muito importantes. Queremos ser vanguarda para discutir esse mercado. Ainda temos um apoio tímido do Governo do Estado diante da importância desse evento, mas não posso deixar de agradecer à Fundarpe, ao Sebrae, à Prefeitura do Recife e, sobretudo, à Natura, para conseguir viabilizar esta edição", diz Melina, já traçando estratégias para o próximo Porto Musical do Recife. A produtora contou com apenas R$ 260 mil para realizar o evento. "É muito pouco diante das possibilidades de negócios possibilitadas entre artistas e produtores".

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