Desde o lançamento na terça (13) do clipe Coisa Mais Bonita, a música da artista Flaira Ferro tem recebido uma grande quantidade de comentários no Youtube. A letra fala sobre a mulher como protagonista do seu próprio desejo, e o vídeo, dirigido por Déa Ferraz, traz uma série de mulheres se masturbando diante de uma câmera.
A grande maioria dos comentários é positiva, com mulheres que celebram o empoderamento e o próprio prazer e homens que elogiam a liberdade sexual e a coragem da obra. No entanto, há várias agressões e comentários misóginos ou descontentes com a música e o clipe.
Um usuário chamou o clipe de “porcaria visual”, outro lamentou: “Saudades de quando a mulher se dava ao respeito”. “O Brasil tem entrado numa decadência moral, ética e cultural absurda”, ainda escreveu outro comentarista. Várias postagens trazem agressões e xingamentos.
“Quando eu e Déa (Ferraz) começamos a pensar no clipe e quando eu compus a música, sabíamos que estávamos tocando em um assunto tabu, que é a sexualidade feminina. Quando a sexualidade está a serviço do desejo masculino, ela é normalizada e aceita, mas quando a mulher é protagonista do próprio corpo, isso é um choque”, conta Flaira, em entrevista ao JC.
“A tristeza é maior porque é essa a nossa realidade, e isso é pior do que qualquer comentário ou ataque na internet”, continua. “Reações reacionárias, conservadoras, misóginas não são novidade. O que me interessa é que vejo um impacto bom, porque a maior parte da repercussão é de pessoas que gostaram, celebraram.”
Nos mais de 250 comentários, a maioria é de pessoas que gostaram e se identificaram com a música, que diz que “mesmo que o mundo se choque,/ o clitóris é antídoto pra morte”. “Salve, salve ao autoconhecimento, a liberdade de expressão!”, comentou uma mulher. “Empoderamento, auto conhecimento, respeito, liberdade, gozo... Eita coisa mais bonitaaa”, escreveu outra. “No meu sagrado feminino, ninguém melhor do que eu para tocar. Flaira, gratidão imensa por esta música, bem como por outras tantas tuas!?”, ainda comentou uma mulher.
“Houve uma novidade para mim, homens compartilhando a música, pedindo desculpas pelos comentários de outros. É bom ver essa outra consciência. E, muito mais do que isso, a repercussão feminina. Eu fiz essa canção pela liberdade sexual feminina, contra a repressão do nosso corpo, para sairmos da cultura de dor, de ser subordinada. É um convite à provocação mesmo”, diz Flaira, que celebra as mais de 25 mil visualizações até o momento da obra.
Para ela, a reação mostra a urgência de se falar nesse assunto. “Quanto mais ataques, mais a gente entende o tempo em que a gente vive atualmente. Precisamos lutar para conquistar espaços de respeito. Uma pesquisa da Prosex, da USP, aponta que 50% das mulheres brasileiras nunca gozaram. Olhando esse número, entendemos os ataques. A mulher sempre foi direcionada a fazer o desejo do outro. Eu só digo que uma mulher que goza e que se dá prazer é linda. Isso bate em uma estrutura milenar”, opina.
Além disso, Flaira comenta que valoriza mais os comentários positivos. “O que faz a roda girar são as coisas que inspiram, fortalecem, que nos fazem mais corajosas. O que tira a energia e vem para atacar não merece importância”, finaliza.