“Diferente”. Foi a única palavra que o pequeno MC Bruninho encontrou para traduzir como era sua vida quando ainda era apenas o pequeno Richardson Cardoso, seu nome de batismo. Aos 11 anos, graças ao hit autoral Jogo do Amor, composto por ele e o amigo Leandro Felipe – conhecido artisticamente como Léo da Jegga – alcançou números expressivos em diversas plataformas digitais. E tudo isso em menos de um mês.
“Estava com meu amigo Léo. A música não estava terminada, e a gente começou a pensar juntos. O Léo tava com um caderno numa necessaire que ele tinha. Ele começou a escrever, eu também e aí nasceu”, explica o tímido garoto, ainda tentando assimilar o meteórico sucesso alcançado nas redes sociais.
Das duas estrofes que Bruninho escreveu em seu quarto depois da escola, com a colaboração do Léo e a produção musical do DJ Batidão Stronda – nome artístico do recifense Guilherme da Silva, 20 anos – a faixa com letra inocente, um bregafunk apelidado de “batidão romântico”, foi parar no topo do Spotify como música viral no Brasil e no mundo.
“Não deu muito trabalho, não, porque ele já chegou ‘virado’, danado. Nem mexi muito na voz dele, só fiz criar o arranjo e a batida, masterizamos e lançamos. Quando saiu, estourou tudo”, comemora o Batidão Stronda, que acompanhará o pequeno artista na estrada, com um tecladista. No Recife, o primeiro show oficial de Bruninho está marcado para 20 de julho, em local a definir. Em sua agenda, já há apresentações marcadas em São Paulo, Goiás, Salvador, Aracaju e Tocantins.
O precoce cantor – que ganhou este nome artístico por causa de um amigo que levantou uma semelhança com um sobrinho dele – começou a perceber o sucesso de Jogo do Amor ainda no bairro de Alto Santa Terezinha, Zona Norte do Recife, lugar onde nasceu e morava até alguns dias atrás. “Quando eu ia jogar bola, as pessoas me paravam para dizer: ‘Aí, você é o MC Bruninho?’ Eu dizia que sim. E as pessoas pediam para tirar foto comigo”, relata ele com um sorriso mais aberto.
O êxito do single rendeu ao MC um contrato com uma empresa paulista para cuidar da sua carreira musical: a GR6 Eventos. Ao lado da agenda que não para de crescer, o trabalho de Bruninho já propiciou um apartamento para sua família e ainda a oportunidade de morar em São Paulo, para onde se muda com o pai, Joelson Barbosa, na próxima segunda-feira.
Em processo de formação de repertório e ensaio para os shows, Bruninho conta que já gravou duas canções novas. Uma delas será uma parceria com o MC Livinho. A ideia, segundo seu staff, é seguir no estilo batidão romântico que deu fama ao jovem artista.
Na conversa com o Jornal do Commercio, Bruninho garantiu que quer continuar cantando por um longo tempo. Mas não demorou muito para contar que antes tinha outro objetivo. “Antes de sonhar ser cantor, eu sonhava em ser jogador, porque me inspirava em Neymar”, revela ele, que joga como atacante e garante fazer muitos gols.
Em meio ao furacão do sucesso, MC Bruninho se assemelha ao fenômeno que vivemos meses atrás com as conterrâneas MC Loma e as Gêmeas Lacração, que seguem trabalhando no estilo bregafunk. Embora semelhantes no ritmo, estes jovens artistas vivem momentos diferentes, mas ambos caminhando numa mesma vertente: cantar para fazer o público se divertir e, claro, obter uma condição de vida melhor.
A verdade é que, antes dos holofotes iluminarem MC Bruninho nos palcos Brasil afora, é necessário lembrar que há apenas um pequeno Richardson Cardoso tentando, através da música, tornar o seu caminho cada dia mais “diferente”.
Para contar a história de Richardson, também é preciso falar de Stephanny da Silva Assis, 23, e do Centro Comunitário da Paz Governador Eduardo Campos, distante cerca de 500 metros da antiga residência do adolescente, local onde os dois se conheceram. Desde 2016, quando o espaço foi inaugurado, o menino passava as tardes por lá. Praticando esportes (judô, capoeira e natação) ou frequentando a biblioteca. As irmãs, Francielle, 13, e Ágata, 8, também aproveitavam o Compaz para fazer dança e balé. A mãe, Betânia Cardoso, é aluna da hidroginástica e da Academia da Cidade.
“Richardson vai muito para o Compaz. Um dia, estava cantando baixinho na biblioteca. Stephanny, que trabalhava lá (hoje atua no Compaz Escritor Ariano Suassuna, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife), ouviu e pediu que ele colocasse o fone de ouvido. Pensou que fosse uma gravação. Ficou surpresa ao saber que era a voz do meu filho. Desde então é a maior incentivadora dele”, reconhece Betânia. “Ela entregava o celular dela para Richardson gravar vídeos no banheiro do Compaz, cantando. Depois postava nas redes sociais, até que um empresário viu e se interessou pelo trabalho dele”, relata a mãe do estudante.
O pai de Richardson era porteiro de uma escola pública. Ganhava um salário mínimo mensalmente. Betânia é dona de casa e recebe Bolsa Família. A renda dos dois não chega a R$ 1.500. MC Bruninho estudava no 6º ano na Escola Estadual Gabriela Mistral, em Água Fria. “Não imaginava tanta mudança em tão pouco tempo. Foi de repente. Em uma semana que o clipe foi colocado no YouTube havia mais de dois milhões de visualizações. Richardson sempre sonhou em ser cantor”, comenta Betânia. “Já fui chamada várias vezes na escola. A queixa é a mesma: ele não para de cantar, de batucar. Usa canetas como se fosse baquetas. Penso se não seria melhor investir nos estudos pois ele só tem 11 anos. Mas meu filho está muito feliz”, afirma Betânia.
Bem antes de virar sucesso, Stephanny já chamava Richardson de “o moleque da voz perfeita”. “Minha ficha ainda não caiu. Lutei muito para divulgá-lo. Colocava vídeos nas minhas redes sociais e marcava cantores e pessoas ligadas à música. Muitos ignoravam até que um empresário daqui do Recife resolveu prestar atenção. Gravou um vídeo e agora está com ele em São Paulo. Sempre acreditei no talento de Richardson”, ressalta a jovem, moradora da comunidade de Roda de Fogo, bairro de Torrões. “Abri mão do meu sonho, que era também ser MC, para focar em Richardson”, diz Stephanny.
Depois do sucesso, Betânia já passou alguns dias sem ver o filho durante sua primeira viagem a São Paulo. “Falava por telefone. Ele dizia: ‘Mainha, eu nem acredito. Estou muito feliz’. Às vezes choro, fico preocupada. Mas esqueço quando penso que ele terá condições de comprar o que quiser, coisas que eu não teria como dar. Ele me pedia uma roupa, um sapato. Agora, quem sabe, isso vai mudar”, planeja, entre lágrimas, a mãe do novo MC pernambucano.