O Exército dos Metais continua série Som da Orquestra

Livro e DVD ensinam história e função de instrumentos
JOSÉ TELES
Publicado em 07/03/2019 às 11:05
Livro e DVD ensinam história e função de instrumentos Foto: Foto: Alexandre Nunis/Divulgação


“Jericó estava completamente fechada por causa dos israelitas. Ninguém saía nem entrava. Então o senhor disse a Josué: saiba que entreguei nas suas mãos Jericó, seu rei e seus homens de guerra. Marche uma vez em volta da cidade com todos os homens armados. Faça isso durante seis dias. Sete sacerdotes levarão cada um uma trombeta de chifre de carneiro à frente da arca. No sétimo dia marchem todos sete vezes ao redor da cidade, e os sacerdotes toquem as trombetas. Quando as trombetas soares um longo toque, todo o povo dará um forte grito, e o muro da cidade cairá”, do Livro de Josué, capítulo 6, versículos 1 a 20.

As trombetas citadas, então chamadas de “shofar”, são citadas na Bíblia pelo menos 72 vezes. A transcrição do texto bíblico, e a informação numérica estão (com ilustração) em O Exército dos Metais, DVD e livro lançados pelo Sesc, dando continuidade à série O Som da Orquestra, que tem como proposta desvendar a história e evolução de cada uma das famílias de instrumentos da orquestra sinfônica. Misturando registros de apresentações ao vivo, entrevistas e pesquisas históricas, os DVDs trazem a oportunidade de conhecer a fundo cada instrumento e o seu papel dentro da orquestra, de forma didática.

O DVD de quase uma hora de duração (dirigido por Marcelo Machado) traça a evolução histórica de quatro instrumentos de metal presentes em grande parte das formações de orquestra: trompete, trombone, trompa e tuba. O jornalista e crítico musical João Marcos Coelho foi o responsável pela apresentação e texto, com capítulos para cada instrumento e exemplos apresentados por a partir de demonstrações e depoimentos de instrumentistas reconhecidos no cenário musical brasileiro, como os integrantes dos grupos camerísticos BrassUka, Trombonismo, Trio de Trompas de São Paulo e Quarteto Caso Grave. O documentário expõe uma ampla perspectiva deste universo sonoro. No repertório do DVD, há obras de grandes compositores como Bach, Beethoven, Mahler, Ravel e Strauss, passando por Villa-Lobos, Pixinguinha e entre outros.

LEVE

O Exército dos Metais é de leitura leve. Não se trata de um texto para quem estuda música, nada de expressões técnicas ou detalhes específicos: é um trabalho que pode ser útil ao músico profissional, mas dirigido ao leigo. O livro resume a trajetória de cada um dos instrumentos desde as primeiras citações históricas sobre ele. O trompete, por exemplo, surgiu na antiguidade como uma espécie de corneta comprida, feita de metal, que emitia um som muito forte. Era usada nas cerimônias romanas. “O instrumento ressurgiu na idade média com o nome de “clarus” – é daí que vem a palavra “clarim” – mas somente no século 15 começou a apresentar o tubo dobrado sobre si mesmo, aproximando-se do tamanho básico atual. Como cada trompete era capaz de fazer soar apenas uma série harmônica, surgiram versões mais graves, médias e agudas dos instrumentos”, é explicado no texto, que não se limita ao instrumentistas, também comentam os instrumentistas. No trompete são citado Miles Davis e Louis Armstrong, no jazz; e Maurício André, na música erudita.

O livro também atende à curiosidade do leigo sobre a origem dos nomes dos instrumentos. Trombone, por exemplo, é o aumentativo de tromba, trompete em italiano: “E o trombone é mesmo um trompete grande. Tem a potencia do trompete e uma doçura no timbre, que se acentua por causa dos famosos glissandi, em que ele parece que vai escorregando de nota em nota, deslizando, como se estivesse surfando sobre o som”. Lendo-se O Exército dos Metais passa-se a dispensar mais simpatia a um instrumento que é visto com reservas: a tuba, o último da família, a ser criado (em 1835). O objetivo era reforçar o registro grave das

orquestras sinfônicas. “Detalhe: tocar tuba exige grande esforço pulmonar. O candidato a tubista precisa até fazer exercícios específicos para aumentar sua capacidade pulmonar, Os compositores sabem também que não devem escrever partes extensas e contínuas para a tuba, porque o músico precisa de um tempo relativamente grande para se recuperar do esforço de cada intervenção”. O autor do texto, no entanto, não se refere aos tubistas que, nos anos 60, tocavam em discos de forró. Nos das gravadora Rozenblit quase sempre há tubas, e esses tubistas provavelmente não se submetiam aos tais testes.

O Exército dos Metais é didático e prático. Com tanta gente aprendendo, sobretudo por causa do frevo, a tocar metais nas escolas de música do Recife, o livro seria um excelente complemento aos ensinamentos técnicos, e tem preço camarada: está sendo vendo no site do SESC a R$ 30 (https://www.sescsp.org.br/loja/)

TAGS
O Exército dos Metais livro/dvd Sesc
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory