A Banda de Pau e Corda, um dos grupos mais antigos em atividade na música brasileira faz show de lançamento do DVD Banda de Pau e Corda – 45 anos Ao Vivo, hoje, no Teatro de Santa Isabel. A efeméride é determinada pelo álbum de estreia Vivência, lançado pela RCA em 1973. O grupo, formado em 1972, despertou imediato interesse das gravadoras do Sudeste. “A Banda de Pau e Corda, com três meses de trabalhos musicais, a partir de motivos folclóricos está para gravar um disco de longa duração. O contrato a ser firmado com a companhia que produz o selo Continental está sendo esperado esta semana, vindo de São Paulo”, informava a sucursal recifense do Jornal do Brasil em janeiro de 1973.
O grupo no entanto não assinou com a Continental (que contrataria o Ave Sangria). O produtor José Milton, cearense, mas que começou carreira no Recife, como cantor na TV Jornal, nos anos 60, aprovou o grupo e mandou uma gravação demo para a gravadora RCA, no Rio. Na época em que a palavra da vez era “pesquisa”, motivada, em parte, pelo sucesso do Quinteto Violado, levou a músicos de regiões diversas do país a pesquisar a cultura regional. Na citada matéria do JB, os integrantes da Banda de Pau e Corda contaram ter passado quatro anos em pesquisas até a fundação da banda.
Para Roberto Andrade (bateria) Waltinho (violão) Sérgio (voz), Paulinho (baixo), Netinho (viola) e Beto Johnson (flauta) foi tudo muito rápido. E eles contribuíram para que a excelência do disco não se limitasse à música: “Fomos ao pintor Lula Cardoso Ayres pedir permissão para reproduzir uma tela dele, de um bumba-meu-boi, o original estava em Paris. Lula concordou. Uma prima da gente trabalhava no então Instituto Joaquim Nabuco. Demos uma demo da banda para ela passar para Gilberto Freyre. Ele gostou tanto da música que se ofereceu para escrever um texto da contracapa”, conta Sérgio Andrade.
Com a chancela destes mestres, Vivência ganhou generosos espaços na imprensa brasileira, com elogios de críticos severos, feito José Ramos Tinhorão: “O mais importante deste disco importantíssimo da Banda da Pau e Corda está certamente no verdadeiro manifesto de calma, resolução e confiança na criança de uma música brasileira a partir das fontes puras da arte popular”. É provável que o apoio que a Banda de Pau e Corda teve no início evitou o incômodo de ter que dialogar com censores para liberar músicas. A partir do AI-5,em 13 de dezembro de 1968, os compositores eram obrigados a submeter as letras à censura federal:
“Só tive problema uma vez com a música Caminhada. Cismaram com a estrofe, “E se houver gente pra perguntar/Cale a boca e não vá responder/Pois na vida que vida não há/É preciso calar pra viver”. Eles vetaram por causa do verbo calar. Substitui por morrer, e passou. Engraçado é que o significado ficou o mesmo”.
Passados tantos anos, Sérgio Andrade, um dos fundadores do grupo, concorda que o público de outros Estados vê a banda de forma diferente: “A gente é mais reconhecido lá fora, onde a banda é uma referência em um tipo de música brasileira de resistência. Este é o primeiro DVD ao vivo do grupo. Seria realizado no Recife, mas não conseguimos pauta em teatro. Por isso optamos por Belo Horizonte, que é nossa segunda casa. Mas a gente está se surpreendendo pela acolhida e o carinho que a banda volta a receber de jovens no Recife”, comenta Sérgio.
Em BH eles tiveram participações de Tavinho Moura, autor de O Trem Tá Feio (do álbum Arruar, 1978), e do violeiro Chico Lobo, que toca em Pássaro de Rima (parceria com Siba Veloso). No show de hoje, a Banda de pau e Corda convidou Marcelo Rangel, PC Silva e o bloco anárquico Pife Floyd. Está também com eles, Marcelo Melo, do Quinteto Violado, cuja trajetória se entrelaça com a da Banda de Pau e Corda no início.
Toinho Alves, o contrabaixista do QV (falecido em 2008) foi quem batizou a o grupo e será homenageado no show. O projeto é dedicado a Roberto Andrade e Paulo Rezende, respectivamente, irmão e primo de Sérgio Andrade, falecidos em 2017. O repertório do show contempla as 14 músicas do DVD, uma geral na música do grupo:
“Muita gente modifica os arranjos, às vezes até a música, procurando mostrar uma coisa nova público. A gente vai tocar o mais próximo possível do original”. Os outros integrantes do grupo Sérgio Eduardo (contrabaixo), Júlio Rangel (viola), Erik Caldas (flauta), Mek Mouro (bateria). l
Banda de Pau e Corda - 45 anos Ao Vivo, hoje, às 20h, no Teatro de Santa Isabel, Praça da República s/n. Ingresso R$ 40 e R$ 20. Fone: 3355 3322