Karina Buhr equilibra-se entre a ira e a delicadeza

Desmanche chega hoje às plataformas digitais
JOSÉ TELES
Publicado em 26/07/2019 às 10:54
Desmanche chega hoje às plataformas digitais Foto: Foto: Priscila Buhr/Divulgação


Bastaram quatro dias de estúdio, o Navegantes, para Desmanche, novo disco de Karina Buhr, ser gravado, com a urgência que os tempos atuais exigem. Desmanche chega às plataformas digitais hoje. São dez faixas, autorais, numa produção dividida com Régis Damasceno, que também assina os arranjos com Karina Buhr e Maurício Badé. Um disco diferente, de Eu Menti Pra Você (2010), Longe de Onde (2011) e Selvática (2015): “A gente decidiu tirar a bateria e colocar percussão como uma coisa mais forte. Este disco tem muito esta história de deixar a percussão com a voz, com poucas camadas de harmonia. A coisa do ritmo é muito presente nele. Nos outros discos acabava a percussão tendo pouco destaque”, comenta Karina, em entrevista por telefone, de São Paulo, onde mora há 16 anos.

“O tempo tá matador/precisando exercitar paz e amor/o exército tá matador/você tá bem?/devo de estar”, versos iniciais de Sangue Frio, que abre o disco, numa interpretação furiosa, a percussão repercutindo pesada e pensada. Karina Buhr, nesta faixa, toca bongô, bombo e bombinha, enquanto Sthe Araújo vai de poica e tarol: “Tem algumas músicas deste disco que são antigas, é louco como se encaixam completamente com o que tá acontecendo hoje. Foi ali que veio a coisa do desmanche, que significa duas coisas, o desmanche político do país, e também o verbo desmanchar, como desfazer, se acalmar. O disco tem dois lados, um mais agressivo, tem a ver com o momento político, não só do Brasil, tem o lado de se acalmar, parar, ficar tranquilo aqui, uma estratégia de sobrevivência”.

O engajamento da música brasileira recente assemelha-se ao que aconteceu durante o regime militar. Em Desmanche ele vai do título a canções feito A Casa Caiu, que aborda a atual conjuntura, e o terrível acidente de Brumadinho, em Minas Gerais. Um rock de riff pesado de guitarra, com fartura de percussão, que lembra o Nação Zumbi na época de Chico Science, as alfaias tocadas por Karina e Maurício Badé: “Eu acho que se pode estar vivendo uma época maravilhosa e fazer coisa maravilhosa, e numa época desgraçada fazer coisa boa. É uma maneira de respirar, de manter a sanidade”. Em uma das canções, Filme de Terror (com Max B.O, que participa da faixa) ela faz comentários com bom humor “É mentira o que dizem os filmes de amor/de verdade, só os filmes de terror”.

DAMASCENO

O cearense Régis Damasceno toca na banda de Karina Buhr, com a qual tocava Fernando Catatau, companheiro de Damasceno na Cidadão Instigado. Catatau voltou a morar em Fortaleza. Em Desmanche, Régis Damasceno só não toca na faixa final: “A gente se entende muito. Convidei pra trabalhar comigo neste disco, falei das ideias que tinha. Gravamos muito rápido. O tempo que a gente tinha era de quatro dias de estúdio. Imaginamos que neste tempo curto seria levantada muita coisa e que, depois, marcaríamos o estúdio novamente para terminar. Foi uma concentração grande. Não se perdeu tempo. Mauricio chegava ligava os equipamentos e em quatro dias as gravações foram concluídas, inclusive as vozes. Depois, gravamos uma coisa ou outra, e as participações”, conta Karina.

A faixa final, Vida Boa É do Atrasado, tem a voz de Isaar. Nela, Karina canta e toca ganzá e alfaia. Uma música que poderia servir a um repertório da Comadre Florzinha, banda que teve as duas como integrantes. O disco de estreia do grupo está completando 30 anos em 2019, especula-se uma reunião para celebrar a data redonda: “A gente nunca se afastou. Estamos nos encontrando sempre, e tem uma identidade comum muito grande ainda. Fizemos um festival em Brasília, depois começaram os convites, e a gente topou. Adoramos tocar juntas, mesmo sem o nome de Comadre Florzinha. Tocamos coisas novas de cada uma, e dos discos da Comadre Florzinha”.

O contraponto ao som irado está em faixas que navegam por águas mais tranquilas, Amora, Peixes Tranquilos e Nem Nada, ou mesmo Lama, em levada de música paraense, que é seguida por Temperos Destruidores, um rockão à The Clash. O álbum equilibra-se nesta dualidade, com destaque para as guitarras na pedaleira com alfaias, na citada música, Karina Buhr promove uma batucada nas alfaias.

Ela começa os shows de Desmanche dia 3 no Sesc Pinheiros. Karina confessa que não sabe exatamente como será a estreia em palco: “A coisa que mais gosto de fazer é show, mas só sei como será quando faço o primeiro, que depois pode mudar, de acordo com a reação do público”.

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