Dizem os mais velhos que a melhor homenagem que eles gostam de receber é em vida. E embora seja empiricamente atrelado ao que é póstumo, isso não é premissa para se pagar um tributo a alguém. E talvez seja esse o pensamento que passou pelas cabeças de Ana Caetano e Vitória Falcão, do duo tocantinense Anavitória, ao entregar ao público o álbum N (Universal Music, 2019), dedicado ao cantor e compositor carioca Nando Reis, na última sexta-feira (29), nas plataformas digitais.
Nas redes sociais, a dupla – que ainda festeja o Grammy Latino 2019 de Melhor Álbum Pop Contemporâneo por O Tempo é Agora (Universal Music, 2018) – definiu bem do que se trata este terceiro disco. “Oito músicas ‘costuradas como uma colcha madrigal’. Ouça inteiro! 29 minutos e 11 segundos. Direto. É um filme de ouvido”, escreveram as meninas, que já dividiram o palco com Nando Reis em uma turnê conjunta de cinco shows em 2018, que começou, inclusive, no palco do Teatro Guararapes, em Olinda, no dia 8 de junho.
Embora tenha oito canções, N é apresentado em 11 faixas. Entre as três complementares, Voz e Violão, que abre o disco, e O Pai da Zoé trazem diálogos de Nando Reis, que funcionam como belos interlúdios. Já a faixa 209, de apenas 18 segundos, faz apenas uma boa ponte instrumental poética para unir as canções Pra Você Guardei o Meu Amor e Relicário.
Com produção musical de Ana Caetano e Tó Brandileone, o álbum transborda sutileza nos arranjos e nas vozes, além da nítida gratidão das jovens cantoras ao veterano criador das canções performadas. O melhor exemplo está na faixa Dois Rios, um sucesso radiofônico gravado pela banda Skank, que ganha uma releitura com ukulelê e violões suaves, somadas à doce interpretação do duo.
O “carinho aos ouvidos” também segue no cover de Espatódea, canção de Nando dedicada à sua filha, Zoé. Com vozes bem distribuídas, a música harmoniza com o clima de calmaria escolhida para todo o disco.
Após o hit Quem Vai Dizer Tchau, N termina com duas canções emblemáticas do carioca: All Star e Por Onde Andei. Na primeira, a canção em homenagem à saudosa Cássia Eller funciona bem na interpretação da dupla. E na faixa derradeira, mais um interlúdio vocal de Nando Reis, que parece justificar bem o porquê do duo ter decidido fazer este álbum-homenagem para o público. “O risco é fundamental, sabe? Experimentar, não ficar protegido só por uma fórmula, uma banda, uma roupa, uma fama, é esse o barato”, diz o cantor, nos 14 segundos finais do álbum.
Embora não apresente grandes riscos, musicalmente falando, do Anavitória neste disco, N – que termina, justamente, sem esta linda faixa de Nando Reis que dá nome ao projeto – é um trabalho realmente gostoso de ouvir. Um tributo em vida que soa mais que merecido e agrada por tamanha delicadeza e sensibilidade.