“Com as tábuas da arca de Noé/Como lendas que vêm do Abaeté/E como espadas de luz enfeitiçada/Nas paredes da pedra encantada/Os segredos talhados por Sumé”, quando Zé Ramalho escreveu estes versos para Nas Paredes da Pedra Encantada, faixa do álbum Paêbirú - O Caminho da Montanha do Sol, de 1974 (dividido com Lula Côrtes), Raul Seixas estava começando a compor canções de letras com misticismo calculado que o parceiro Paulo Coelho. Zé Ramalho vinha da experiências cogumelos e ácido lisérgico, consumido em profusão pela turma do udigrudi pernambucano dos anos 70.
Experiências que estão bastante presentes no primeiro álbum solo dele pela CBS/Epic, e surgem já na abertura do repertório com Avohai, e suas estrofes enigmáticas, com influência das métricas dos cantadores de viola: “Neblina turva e brilhante/Em meu cérebro coágulos de sol/A manita matutina/E que transparente cortina/Ao meu redor “, pensamentos que lembram textos do bruxo Castañeda. A “manita matutina” é nome científico do cogumelo alucinógeno, que brota ao raiar do dia nos pastos onde o gado pasta. Zé Ramalho, cuja carreira completa a data redonda de 40 anos, a contar do lançamento de Paêbiru, apresenta hoje, à noite, no Teatro Guararapes, teve toda sua discografia oficial, mais raridades postadas nas plataformas digitais, em 3 de outubro de 2019, quando ele completou 70 anos (podem ser conferidos no link: https://smb.lnk.to/70AnosZeRamalho).
“Avohai significa avô e pai, e não avô Raimundo, como muita gente pensa. O nome do meu avô era José Ramalho. Foi a única música psicografada por mim. Aconteceu de uma forma mágica, uma voz soprando no meu ouvido. Eu estava sob efeito de um chá de cogumelo alucinógeno. A gente ia pros pastos, sempre de manhã bem cedinho, com o sol nascendo, porque ele nasce em cima das fezes de boi zebu e só dura umas poucas horas, depois seca e morre”, contou o cantor em uma entrevista ao JB, em 1996.
Não por acaso, no repertório que Zé Ramalho apresenta no show de hoje, há duas da obra de Raul Seixas, Gita e Medo da Chuva (ambas com Paulo Coelho). Grande parte dos órfãos de Raul Seixas engrossou as fileiras do fã-clube de Zé Ramalho, mais do que a admiração por um ídolo é uma espécie de xamanismo, para muitos que seguem o artista Paraibano de Brejo da Cruz. E Ramalho, o neto, nunca deixa de cantar o que eles querem e precisam ouvir, as filosóficas, cósmicas e enigmáticas Avohai, Frevo Mulher, Admirável Gado Novo, Chão de Giz, Beira-Mar, Eternas Ondas, Garoto de Aluguel, Vila do Sossego, e Banquete de Signos.
A apresentação de Zé Ramalho começa às 21h, no Teatro Guararapes, no Centro de Convenções no Complexo de Salgadinho. Ingressos custam: Os ingressos no primeiro lote custam R$ 80,00 (meia) e R$ 160,00 (inteira) para o setor Balcão; R$ 110,00 (meia) e R$ 220,00 (inteira) para o setor Plateia B; e R$ 120,00 (meia) e R$ 240,00 (inteira) para o setor Plateia A. Fone: 3182-8000