Mesmo com a intensa programação de shows paralelos no Marco Zero, a última noite de Rec Beat, nesta terça (25), lotou o Cais da Alfândega do início ao fim. Comemorando seus 25 anos, o festival trouxe para o seu palco uma espécie de retrospectiva recente de grandes shows que já recebeu.
A começar pela presença de Johnny Hooker no line-up, e de Liniker e os Caramelows – todos com passagens e um histórico memorável com o evento.
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O festival também não se ateve apenas a isso; trazendo também, como de costume, outros talentos na programação. A apresentação que abriu a noite é um grande exemplo disso.
Os Cafurnas Fulni-ô, da tribo indígena Fulniô, exibiram no palco um prisma particular da cultura de um povo, musicalmente não resignada a um adereço "exótico". O som foi som, e foi bom. Agitou todo grande público presente não pela contemplação, mas pela impregnação sonora que entra pelo ouvido e se espalha movimentando o corpo todo.
No repertório, os Fulniô trouxeram uma reunião dos seus cantos tradicionais. As músicas foram cantadas em Yaathe, língua nativa do povo. Segundo um levantamento realizado pelo IBGE, cerca de 8 mil indígenas Fulni-ô vivem no Brasil. Ainda sem território demarcado, o principal território em que eles se concentram é Pernambuco, numa aldeia próxima ao município de Águas Belas.
A segunda atração da noite foi a banda da Bélgica Black Flower, trazendo um som mais próximo dos concertos instrumentais para o Cais da Alfândega.
A vibe demorou para ser captada pela multidão, até pela quebra de clima do set da Dj Milena Cinismo, que tocava nos intervalos boas sequências mixadas de brega-funk e funk carioca. Depois da primeira barreira de uma espécie de tédio quebrada, o público terminou amando as composições finais da Black Flower – esboçando um português, saindo do palco ovacionada, mas sem pedidos de "mais uma".
Fechando as novas atrações, a partir das 22h, o Rec-Beat iniciou uma viagem com nomes recentes que caminharam junto ao festival. O primeiro deles: Johnny Hooker.
O repertório do artista foi talhado justamente nesse aspecto de aclamação e reciprocidade com o público local. Cantou todos os seus hits que grudaram nos ouvidos dos pernambucanos durante os últimos quatro anos (2016 trouxe para o Rec-Beat Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito, e em 2018, Coração). O seu figurino, ressalte-se, também foi um show à parte.
Outro ponto alto da apresentação foram as presenças surpresas no palco de Gaby Amarantos e Liniker – a presença dela, especialmente, renovou as significações políticas do show (até então um pouco limitadas) por um caminho muito mais direto e amplo. Com adição ainda de uma belíssima performance dos artistas acompanhados da exibição de uma cena da obra-prima Felizes Juntos (1997).
Depois de Johnny, outro retorno de um dos grandes queridos do festival veio na presença de Liniker e os Caramelows. Além desse ingrediente especial, o show ganhou contornos emocionais maiores com o anúncio recente de que Liniker e a banda iriam se separar.
A apresentação foi retorno, mas também despedida; sem necessariamente soar de modo integral como alguma dessas duas coisas. A energia que emanava do palco para o público foi inexplicável. Principalmente quando nas últimas composições, com clássicos do seu primeiro projeto Cru (2015), Liniker literalmente fez chover no Cais da Alfândega.
O show mais enérgico da noite, e talvez dos quatro dias de festival.
Para finalizar a noite a festa Babúrdia tomou conta do palco com a presença especial do veterano DJ alemão Daniel Haaksman, que manteve a vibe do público agitada até o encerramento.